Não
esqueçais nunca — diz a seu filho o piedoso Tobias — as dores de vossa mãe.
Esta
recomendação se entende principalmente com os nossos corações quando se trata
de Maria, a mãe dos filhos de Deus. Nela vemos estampada toda a paixão de Jesus
Cristo; pois assim como o disco do sol brilha ao mesmo tempo sobre as nossas
cabeças e no fundo das águas límpidas em que se reflete, assim também se
contempla, tanto na Cruz como no coração de Maria, a plenitude dos sofrimentos
do Salvador dos homens.
É
necessário que cada cristão, discípulo de Jesus Cristo, tome parte nos
sofrimentos do Mestre, reproduzindo-os em si mesmo: “Hoc sentite in vobis quod et Cristo Jesu”. E si todas as almas fiéis
se comovem à vista do Calvário imagine-se com que intensidade no coração da mãe
de Jesus Cristo se deviam ter reproduzido os sofrimentos de Seu Filho.
Todavia
não confundamos este mistério da compaixão cristã com a piedade maternal. Sem
dúvida sofreu Maria as angústias da mais extremosa das mães e a sua alma, como
um vasto e tranquilo oceano, refletiu em sua profundidade todas as torturas
morais e corporais do Gólgota.
Mas
um sentimento sobrenatural a dominava; Ela sofria voluntariamente com Jesus
Cristo para a salvação do mundo e cooperava em todos os atos da Redenção por
sua aquiescência ao cruento sacrifício.
Digna
filha de Abraão, a Virgem de Sião se conserva em pé no altar do Calvário, na
atitude de um profeta, e ai oferece a vítima e consente na imolação. É assim
que Ela coopera para a redenção do mundo, compartindo todas as expiações e
todos os sofrimentos interiores de Jesus Cristo e padecendo com o seu Divino Filho
o martírio da cruz e todas as amarguras que resultam dos benefícios não
reconhecidos, do amor desdenhado e da graça brutalmente repelida.
Consideremos
na compaixão de Maria os caracteres salientes do sofrimento cristão. A mãe de
Jesus Cristo é objeto de inauditas aflições, mas nenhuma queixa profere,
mantém-se em pé: stabat Mater!
firme, calma, submissa e corajosa. Eis o que a torna sublime, porque não há
nada que se possa comparar com a majestade da resignação. A dor, quanto mais
aceita é, tanto mais nos inspira simpatias.
Nós
nos compadecemos dos que sofrem, quando sofrem com submissão à vontade de Deus;
mas já não nos compadecemos tanto dos que se compadecem de si mesmos e não
sabem conter a veemência dos seus pesares. O Evangelho, narrando os principais
atos da Paixão, se limita a mostrar-nos Maria ao pé da cruz, sem referir
nenhuma palavra de Maria. O silêncio é, com efeito, a linguagem mais expressiva
das verdadeiras dores e impõe um respeito que as confidências imprudentes e as
lamentações exageradas não poderiam impor a ninguém. De que servem, aliás, as
cenas de desespero? Esgotam as forças vitais e, longe de comoverem, importunam
os que a elas assistem. Julgamos deplorável o mau gosto de certos livros e de
certas estampas que nos representam a Mãe de Jesus a estorcer-se e a cair
desfalecida nos braços das santas mulheres que a amparam. Tais representações
são contrarias ao texto e ao espírito do Evangelho; os seus autores confundem
os sofrimentos enervantes da natureza com os sofrimentos cristãos e, longe de
alentarem com isso a nossa devoção, adulteram-lhe o princípio.
Maria
não falou, mas desfez-se em lágrimas e as lágrimas são também uma linguagem,
pois são palavras do coração. Há lágrimas redentoras, diz Santo Ambrósio. O
próprio Jesus Cristo chorou: chorou por Jerusalém. A sua divina Mãe chorou
igualmente e a Igreja venera as suas lágrimas: juxta crucem lacrymosa.
As
lágrimas são mais ou menos puras, nobres e santas, segundo as fontes de onde
fluem. As que provêm da sensibilidade natural podem ser abundantes e impetuosas,
mas são estéreis.
As
que, ao contrário, destilam da alma cristã repassadas de compaixão, são fecundas
e simpáticas e, formadas na região do céu, possuem, como o sangue, uma virtude que
toca e salva as almas e participam da virtude das lágrimas de Jesus Cristo.
Tais
eram as lágrimas de Maria, tais devem ser as vossas.
Chorai,
portanto, sobre os filhos que perdestes, ó mães cristãs, mas chorai com Maria e
chorai como Maria.
Lembrai-vos, outrossim,
desta palavra de um santo: “O filho de uma mãe piedosa não poderá se perder”.
Uma nuvem misteriosa marchará à frente do filho pródigo para o proteger de dia
e de noite e essa nuvem protetora, composta das lágrimas maternas, cairá sobre
ele desfeita numa chuva de bênçãos.
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