Este blog é composto de textos extraídos do belíssimo e raro livro de 1938 chamado "Novo Manual das Mães Cristãs" do Reverendíssimo Padre Theodoro Ratisbona da Editora Vozes.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

VI. Cura das doenças morais

Há duas coisas de que não se deve desesperar jamais: o coração de Deus e o coração do homem.

O homem é um doente curável e Jesus Cristo veio para o curar. “Ó bondade de Cristo!” exclama São Bernardo, ó salutar remédio que os desgraçados não ousavam esperar! O amor de Deus é tão gratuito e tão pronto, e a sua misericórdia é tão admirável e tão vasta que ele nunca é surdo para os que o imploram. Ele ouve sempre porque Ele é bom. E como são inefáveis as transformações que em nós opera a destra do Altíssimo! Ontem sufocavas nas trevas; hoje exultas no meio de esplendores!

Ontem, nas garras do leão; hoje, nas mãos do teu Deus! Ontem, às portas do inferno; hoje, no seio do paraíso! Como é que o homem demora na atmosfera do pecado, que é a fonte de todos os males e de todas as agonias, e não procura com empenho e santo fervor a cura e a salvação, condições únicas da paz, da vida e da felicidade?

O pecado é para a alma o que a doença é para o corpo, e assim como há uma grande variedade de doenças, há também uma grande diversidade de pecados. Todas essas moléstias corporais, quem sabe, correspondem a moléstias semelhantes da alma e são destas os tipos exteriores. Neste ponto de vista é que se compreende por que o Evangelho faz menção particular dos doentes de toda a espécie a que o Salvador restituiu a saúde.

Há, com efeito, para a alma, como para o corpo, paralisias, infecções, febres inumeráveis; há surdos, mudos e cegos espirituais.

A alma é susceptível de ser ferida da lepra e da morte.

O divino Salvador, multiplicando seus milagres, de certo que não tinha em vista simplesmente operar curas corporais. “O que Ele realizou de uma maneira visível, era o indício das maravilhas idênticas que Ele produzia invisivelmente nas almas”, diz Sto. Agostinho. E quando transmitiu aos seus discípulos o poder de curar, Ele tinha igualmente em vista, não as enfermidades do corpo, mas as doenças bem mais graves e perigosas da vida moral. É neste sentido que se deve entender o texto sagrado: “Eu não vim para os sadios, mas para os doentes; não vim para os justos, mas para os pecadores.”.

Toda a história evangélica nos mostra o cumprimento desta divina palavra. Jesus Cristo ai aparece – ora sob a forma de um bom pastor que corre em busca da sua ovelha deixando noventa e nove ovelhas fieis para procurar e trazer ao redil a única que se havia desgarrado; ora é o pai do filho pródigo que, a vista das lagrimas deste, esquece os seus pesares e ressentimentos e, lançando-se ao pescoço do filho infeliz e humilhado e cobrindo-o de beijos, deixa transbordar toda a sua alegria: "Regozijemo-nos! Porque ele estava perdido e o achei! Ele estava morto e ei-lo ressuscitado!"

Jesus Cristo não se restringe a estas consoladoras parábolas. Seus atos reais vão muito além do que Ele ensina. Ele acolhe com bondade todos os pecadores. Atende aos rogos da filha de Canaã. Diz à mulher culpada: “Que aquele que não tem culpa vos lance a primeira pedra!” E diz a todos: “Ide-vos, estais perdoados; não pequeis mais de ora avante!”

Poderiam tais atos, tais palavras, tais exemplos, deixar subsistir qualquer limite a nossa confiança? Ah! Sem dúvida há mães que gemem sobre as quedas profundas de seus filhos. Elas tremem com toda a razão, contemplando o abismo em que se precipitam.

Não desesperem, porém; não cessem nunca de contar com a misericórdia do Deus Salvador!

Que, a exemplo da viúva de Naim, elas acompanhem de suas preces e de suas esperanças o morto que se transporta para o tumulo; e o Senhor fará o milagre de o ressuscitar. Ele dirá, tocando o esquife: “Mancebo, levanta-te, eu te ordeno!” e o restituirá a sua mãe.

Escutai essas palavras de São Bernardo:

“Não há alma, por mais carregada de pecado, arraigada nos vícios e mergulhada na lama, estrangeira na terra dos seus inimigos, segundo a língua dos profetas – infamada de crimes e embora achando-se no número das que vão para o inferno; não há alma, dizemos nós, caída e degradada de tal sorte que não possa, enquanto ainda está neste mundo, invocar o nome de Jesus e respirar na esperança do perdão e que no fundo do abismo, não consiga ainda elevar-se até ao gozo das mais puras delícias da paz.” (São Bernardo. Serm. 83).


Todavia o tratamento de almas, tal como foi divinamente estabelecido na Igreja, se faz nas mesmas condições que o tratamento dos corpos.

A primeira condição é sentir a doença.

É claro que aquele que não se sentir doente não procurará recuperar a saúde. Ora, desgraçadamente é esta a disposição de muitos pecadores. Eles não tem consciência de nenhuma falta; julgam-se perfeitamente honestos e puros só porque a seu modo de ver, preenchem os deveres da justiça para com o próximo.

Dizem-se bons pais, bons filhos, bons esposos. Que o sejam! Mas são acaso bons cristãos?

Admita-se que eles dão a César o que é de César; Mas dão a Deus o que é de Deus?

Eles são fiéis nas suas relações com a terra; mas serão justos e íntegros nas suas relações com os céus?

Não; estes homens cuja consciência se acha assim obscurecida, não se sentem doentes, e por conseguinte não são suscetíveis de cura.

Aliás, o natural do espírito do mundo é adormecer a consciência e torná-la inacessível as emoções espirituais, como o fazem certas substâncias soporíferas que adormentam os membros do corpo, permitindo que se os corte impunemente.

Que é preciso, pois, para obter a cura de tais almas? É preciso rezar por elas e fazer que elas rezem também. É preciso recordar-lhes a doutrina da salvação e edificá-las com os exemplos dos cristãos que põe essa doutrina em prática.

A segunda condição do restabelecimento da saúde moral é recorrer ao médico. Se há médicos para o corpo, há-os também para a alma. Tanto estes como aqueles fazem profundo estudo da arte de curar e, por conseqüência, conhecem bem as doenças e os remédios.

Foi Jesus Cristo que instituiu o médico da alma: “Eu vos envio como Meu Pai Me enviou”, isto é, eu vos envio para dissipar as trevas do espírito, para distribuir a paz entre as boas-vontades, para curar as chagas, para reabilitar o homem e as sociedades e para salvar o mundo.

“Tudo que ligardes na terra será ligado no céu; e o que desligardes na terra será desligado no céu”.

"Os pecados que houverdes perdoado serão perdoados e os que houverdes retido serão retidos."

Eis ai o que constitui o poder do médico espiritual. Eis ai a missão do sacerdote católico. Jesus Cristo projeta um sopro luminoso Divino na fronte do padre e nela imprime um selo indelével; e esse dom sagrado, independentemente da ciência dos estudos e das virtudes pessoais, encerra por si só a graça de curar doentes.

É a estes médicos, dotados de uma invencível discrição, que se deve recorrer; é a eles que deveis descobrir a vossa consciência e mostrar as vossas feridas.

Que alívio nos trás a confissão das faltas! Quando o coração está torturado pelos remorsos, não é como de imperiosa necessidade transvasar-lhe o excesso em outro coração?

A confissão seria uma prática espontânea da natureza humana, mesmo quando não fosse um ato consagrado pela religião.

Mas a confissão só por si, não basta para a cura das almas. Também, para as doenças do corpo não basta consultar o médico. Que é preciso ainda? Seguir-lhe a receita e observar-lhe as prescrições. E ai temos a terceira condição da saúde moral. Trata-se de tornar a entrar em relações com Deus; e para isto a alma impura tem necessidade de se purificar. A natureza do mal indica a natureza do remédio; cumpre antes de tudo desfazer das correntes que paralisam os movimentos, isto é, reparar as faltas, corrigir os costumes, avivar a piedade, elevar a intenção, fortificar as resoluções e enfim restituir a Deus todas as potências da alma. Tais são as virtudes curativas da penitência.

As mães cristãs, que meditarem essas consoladoras verdades, tirarão delas, para si e para seus filhos, instruções práticas. Se elas se sentem doentes e acabrunhadas pelo peso das enfermidades espirituais, não tem mais do que preencher humildemente as condições de que dependem a saúde e a vida; e se ao contrário estão de pé e cheias de força, devem, em todo caso, usar de cautela, conservando-se vigilantes sempre, a fim de não caírem! Mas sobretudo não desanimem nunca!

Não duvidem jamais do poder da bondade do Divino Salvador!

“Eu não desejo a morte do pecador; Eu só desejo que ele se converta e que viva!”

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