As
vocações de Deus são imutáveis: o homem, o que foi neste mundo, se-lo-á eternamente
no céu.
Se
aplicarmos esta verdade a S. José, pressentiremos talvez a grandeza do seu papel
no reino de Deus.
S.
José é o homem sublime e a sua missão é incomparável. Herdeiro dos patriarcas e
primeiro modelo dos discípulos de Jesus Cristo, possui as virtudes eminentes de
todos os outros santos, mas excede-os a todos, em graça e em glória; e pode-se
afirmar com Suarez que ele é um vulto excepcional e acima de toda a apreciação
pelo lugar que ocupa na hierarquia dos bem-aventurados.
É
o justo por excelência, o homem de Deus, o amigo de Deus, o servidor fiel e
concentra em si todos os traços dos mais ilustres personagens do Antigo e do
Novo Testamento.
Ele
é, como Noé, o depositário da arca da salvação; como Abraão, o herói da fé;
como Jacob, peregrino e viajante em sua tenda; e, como o outro José — o
salvador do Egito — ele armazena em si o verdadeiro trigo, o melhor frumento e
guarda as chaves dos celeiros do céu. Como Moisés, ele prefere participar das
humilhações do seu povo a gozar das prerrogativas da nobreza; e, como David, sofre
com magnanimidade as provações, as perseguições e as adversidades do exílio. Como
os profetas e como os mártires de que o mundo não era digno, ele viveu pobre,
desconhecido, obscuro e dedicado unicamente à obra de Deus, não tocando enfim a
terra senão com a ponta do pé, pois que o seu coração pertencia ao céu e só no
céu estava.
É
um erro muito comum representar o virgíneo esposo da Virgem sob o aspecto de um
simples operário ou de um homem vulgar. S. José era um príncipe do povo de
Deus; nascido da raça de David, ele contava entre os seus antepassados uma
longa série de príncipes e de reis. Já não existia em verdade a antiga dinastia,
mas continuava a ser honrada ainda e os seus augustos descendentes não tinham
perdido os títulos que lhes garantiam o respeito e a veneração das tribos de
Israel. Se S. José, cheio de divinais revérberos, escolheu entretanto uma humilde
obscuridade, foi porque, rico dos bens do céu, menosprezava as fortunas e as glórias
deste mundo. Ele era santo muito antes de a doutrina da santidade ter sido pregada
aos homens. O carpinteiro de Nazaré vivia do seu trabalho, é bem certo; mas
isto mesmo era um dos caracteres da sua perfeição.
Qual
devia ser a preeminência de virtudes e a supereminência moral deste varão eleito
entre todos para servir de pai ao menino Jesus e para servir de esposo a Maria,
a Virgem Imaculada?
Não
há nada mais admirável do que o segredo inerente a esta dupla vocação. De tal
segredo foi S. José por muito tempo o confidente único; mas o Evangelho o
descobriu à luz do dia e, se acaso não é compreendido pela fraca razão humana,
revela-se com uma lucidez maravilhosa àqueles que têm o coração humilde,
simples e reto.
Eis
aí o mistério, tal como o explicam Sto. Ignácio de Antioquia, S. Jeronimo, Sto.
Agostinho e vários outros Padres da Igreja. Os livros santos tinham anunciado
que uma Virgem conceberia, que daria à luz um filho e que o fruto das suas
entranhas se chamaria Emmanuel, Deus conosco.
“Ecce virgo concipiet et pariet filium,
et vocabitur nomen ejus Emmanuel”.
Este
anúncio profético, oráculo das esperanças humanas, era um motivo de angústias
para Satan. O irreconciliável inimigo de Deus e dos homens espreitava com perfídia
a realização da misteriosa profecia para estorvar as vias da redenção do mundo,
e não é difícil fazer uma ideia das violências, dos ardis e das traições que ele
meditava, pela horrível carnificina que ensanguentou Belém desde os primeiros
dias do nascimento do Messias.
A
sabedoria divina fez que se malograssem os estratagemas da serpente; e para lhe
ocultar o alto plano da Providência, impedindo-a de conhecer o prodígio da
maternidade imaculada, quis que Maria contraísse um casamento legal; de sorte
que, sob a égide de S. José o mistério da Virgindade não pode ser suspeitado e as
divinas promessas se realizaram sem ruído e sem resistência.
Assim
este grande santo guarda o segredo de Deus. Mandatário do Altíssimo ele concorre
para a execução do projeto sagrado, torna-se o depositário único dos tesouros
do céu e da terra e tem em suas mãos o preço da redenção do mundo! Eis aí o
sacramento misterioso, concebido, desde a origem, no silêncio dos conselhos de
Deus e confiado ao silêncio de S. José.
A Escritura
diz: “há o tempo de calar e o tempo de falar”; pois a missão de S. José foi ocultar
a Encarnação do Filho de Deus, como a dos apóstolos foi proclamá-la ao mundo.
Que
celestial favor! que alta dignidade lhe foi confiada! que prodigiosa missão e
também que insigne felicidade! José pôde contemplar, pôde ver com os seus próprios
olhos Aquele que fez as delícias dos anjos e exultou de jubilo à voz de Jesus e
de Maria. Ele era o chefe venerado da Santa Família e quem a protegia e guiava
no meio das provações e dos sofrimentos. Anjo visível da Mãe e do Filho, ele
executou os decretos do Altíssimo, subtraindo os dois as perseguições do
inimigo, levando-os a país estrangeiro e trazendo-os de novo para a pátria.
Iniciado nos pensamentos de Deus, ele esteve em comunicação constante com o céu,
sem que ao mesmo tempo deixasse de prover pelo seu trabalho material às
necessidades da vida terrestre.
S.
José é o homem humilde e manso de coração e todas as suas perfeições se acham
envoltas em uma casta modéstia; mas ele guarda em si o mistério do amor, vive
de amor e morre de amor; vive e morre nos braços de Jesus e de Maria!
E
assim foi a vocação de S. José, vocação augusta que se perpetua nos séculos dos
séculos. O que José visivelmente há sido para a pequena família de Nazaré, ele
incessantemente o será também para a grande família da Igreja. José, tanto no céu
como na terra, é o órgão poderoso da Providência. Ele intercede por nós junto
ao solo de Deus, interessa-se pelo objeto das nossas solicitudes, provê às nossas
necessidades espirituais e temporais, vela pelo filhos de Deus, dispensando-lhes
copiosas graças e a sua voz, como a de Maria, e sempre ouvida no céu.
À imitação
do próprio Jesus Cristo, sejamos finalmente submissos a S. José! Com a Virgem
Maria, prestemos-lhe um culto honroso e elevado de confiança e de amor. Com
todos os santos da corte celeste, invoquemo-lo em outras necessidades e,
sobretudo à nossa última hora, pois ele nos conduzirá à eterna pátria.
Ele
é um pai e por este só titulo é o modelo dos pais, o arrimo das mães, o protetor
vigilante das famílias e o patriarca de toda a Igreja.
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