Este blog é composto de textos extraídos do belíssimo e raro livro de 1938 chamado "Novo Manual das Mães Cristãs" do Reverendíssimo Padre Theodoro Ratisbona da Editora Vozes.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

I. A Mulher



A Escritura Sagrada nos ensina que o castigo da mulher foi mais severo que o do homem: tinha ela chamado sobre si mais anátemas e sofrimentos. Jesus, o Salvador do mundo, a reabilitou. Se, pois, o reconhecimento deve ser proporcional ao benefício, a mulher cristã, sem dúvida, tem imensas ações de graças a render. Que era a mulher antes do cristianismo? Que é ela ainda hoje nas regiões onde o Evangelho não triunfou? Votada a servidão e profundamente degradada, parecia-se duvidar outrora que ela tivesse uma alma. Em parte alguma se lhe reconheciam direitos, nem categoria, nem dignidade.

O Evangelho mudou radicalmente esta situação lastimável. A abjeção de Eva desapareceu ao aspecto de Maria, como ao despontar da aurora se dissipam as trevas. – “Uma mulher, diz Santo Irineu, tinha oferecido ao homem o fruto da morte, outra mulher lhe ofereceu o fruto da vida”.
Desde a era da renovação, dois caminhos se acham abertos em frente da mulher: o caminho de Maria e o caminho de Eva.

Entre estes dois caminhos não há meio termo: ou descer, a exemplo da mãe do pecado, a ladeira fatal da vergonha, ou seguir os passos da mulher imaculada, elevando-se ela ao mais alto cume da perfeição. A mulher, ou perpetua a vida de Eva, exercendo sobre os que a cercam uma influência perniciosa, ou imita e propaga a vida de Maria pelo ascendente das suas virtudes.

Se fosse preciso corroborar com fatos esta última asserção, bastaria lembrar as mulheres do Evangelho, primeiras companheiras de Maria.

Elas constituem um núcleo sagrado de um apostolado íntimo e são as mais ativas colaboradoras da obra da Redenção. Um doutor da Igreja não hesita em lhes conferir o título de evangelista dos evangelistas, por quanto a estas intrépidas e generosas mulheres, reunidas em torno de Maria ao pé da cruz, foi com efeito dado o inefável privilégio de anunciarem a ressurreição de Jesus Cristo aos apóstolos e ao próprio São Pedro.

Ora, este núcleo de santas mulheres existe sempre na Igreja. Elas conservam em depósito no seu coração, a exemplo de Maria, as sementes da piedade cristã e rivalizam em magnanimidade com os mártires, em zelo com os apóstolos, em abnegação com os eremitas e em caridade com os anjos.

Sem dúvida o seu ministério não se exerce na vida pública; ele é obscuro e misterioso, mas é também persistente, e a sua ação penetrante acaba sempre por triunfar de todas as resistências.

A história atesta esta verdade: “Há sempre uma mulher no fundo de todos os acontecimentos” – dizia José de Maistre.

E para não citar aqui senão nomes geralmente conhecidos, relembremos a missão de Santa Helena, que restaura os muros de Jerusalém e comunica o ardor de sua fé ao grande Constantino.

No campo de batalha de Tolbiac, Clóvis invoca o Deus de Clotilde, o que foi o sinal das conquistas do cristianismo nas Galias e a consagração do valor dos Francos. Quase pela mesma época, uma outra mulher, uma mãe cristã, a célebre Mônica, dava a luz, pelas suas orações e pelas suas lágrimas, esse grande oráculo de teologia – Santo Agostinho.

Nós vemos aparecer, nos sombrios dias da Igreja, o doce vulto de Genoveva, anjo visível que só pelo ascendente da sua santidade detém Atila as portas de Paris e dispersa o exercito dos bárbaros. Conhece-se a missão da grande condessa Matilde: foi ela que dilatou o augusto domínio temporal que a Providência quis constituir para o vigário de Jesus Cristo, e a sua ativa piedade ilumina todo o pontificado de São Gregório VII. Branca de Castella, a mãe de São Luiz, uniu em seu coração o gênio político às mais ternas solicitudes maternais.


Joana d´Arc, humilde pastora, salva miraculosamente a França.

Isabel d´Espanha, a rainha católica por excelência, preside a descoberta do novo mundo.

Mas onde iríamos parar, se interrogássemos os anais da vida monástica? Que maravilha se ofereceriam a nossa imaginação, se o véu que oculta os santuários da virtude nos deixasse perceber as grandes almas consagradas a Deus! O mundo quase nada sabe acerca dessas humildes existências e quase nunca lhes é reconhecido. E, todavia, que benéfica influência não exercem elas sobre a terra pelas comunicações incessantes que entretêm com o céu! Os reis, os pontífices, os príncipes da ciência e da palavra não se dedignavam de recorrer outrora a uma Catarina, a uma Hildegarda ou a uma Isabel, para escutarem as lições da Divina Sabedoria. Santa Teresa, toda abrasada no fogo apostólico, tornou-se luzeiro mesmo para os que tem missão sublime iluminar o mundo. A santa viúva de Chantal, filha espiritual de São Francisco de Salles, dá as mulheres de seu século o exemplo da mais eminente perfeição.

Uma outra mãe, a bem-aventurada Acaria, deixa por sua vez iluminosos traços nas diferentes condições que podem pertencer à mulher cristã. Luiza Marillac é auxiliadora de São Vicente de Paulo, e a respeito desta basta dizer isto: O impulso que ela imprimiu a caridade nunca mais afrouxou e as obras por ela inauguradas se desenvolvem ainda hoje com inesgotável fecundez.

Quantas mulheres mais, ignoradas sobre a terra, mas bem conhecidas de Deus, se ligam como anéis de ouro a esta cadeia viva que remonta a Maria!


Uma observação que a história justifica é que todos os homens chamados a dirigir o movimento do mundo tiveram por auxiliares algumas mulheres superiores.

Nada de grande se tem feito jamais no decurso dos séculos sem a cooperação das mulheres.

Deus tornou a dedicação uma necessidade para elas e deu-lhes a inteligência da caridade: Virtudes sublimes estas, que o sopro do Evangelho fez desabrochar no coração das mulheres evangélicas ao mesmo tempo que no coração dos apóstolos, e que se encontram na origem de todas as grandes obras da Igreja como junto ao berço de todas as crianças.

A Divina Providência quis que Maria fosse ao mesmo tempo virgem, esposa e mãe, a fim de que ela pudesse servir de modelo em todas as situações da mulher cristã. Que a donzela aprenda, pois, com a Rainha das virgens, a permanecer casta e vigilante! Que as esposas imitem a sua paciência e a sua doçura! Que as mães sejam, a maneira dela, mulheres fortes, caritativas e magnânimas! Que as que são de idade avançadas deixem cair sem pesar sobre a terra as flores efêmeras da vida presente e produzam frutos para a eterna vida!

É assim que, em todas as fases de sua existência a mulher cumprirá sua missão admirável. E se neste mundo seu nome ficar sem brilho, a sua memória será imortal, pois ela se terá inscrito no Livro da Vida e transmitirá a seus descendentes as bênçãos divinas que edificam as famílias e consolidam a sociedade.

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