Este blog é composto de textos extraídos do belíssimo e raro livro de 1938 chamado "Novo Manual das Mães Cristãs" do Reverendíssimo Padre Theodoro Ratisbona da Editora Vozes.

domingo, 24 de janeiro de 2010

XI Teologia prática

Nos livros sagrados está escrito que os filhos de Deus formam uma nação que vive de amor e de obediência. Estas breves palavras resumem a doutrina pregada por Jesus Cristo ao mundo; porquanto, no cristianismo, tudo é amor e caridade e a felicidade do homem, bem como a sua glória imortal, consiste em apreciar, compreender e praticar esta divina teologia.

Os mistérios da religião, os sacramentos, os mandamentos, os preceitos da Igreja, em uma palavra, todo o cristianismo, partem de um princípio de amor e têm por termo último a vida de amor. O próprio Deus não é mais que amor; e não se poderia melhor defini-lo do que dizendo com o Apostolo: “Deus est caritas”, “Deus é amor”. Nós achamos nesta palavra inefável a idéia da Trindade, pois que, segundo a observação dos doutores, o amor supõe Aquele que ama, Aquele que é amado, e a conexão substancial que une um ao outro: três termos distintos em uma mesma vida, em uma só unidade.

O mistério de amor se encontra em todos os atos exteriores de Deus. A criação inteira não é senão um ato de amor. Era como que uma necessidade para Deus, diz Santo Agostinho, ter seres aos quais pudesse fazer bem: “ut habert quibus benefacet”.


E o impulso irresistível do amor não é , com efeito, dar felicidade, fazer felizes?


O homem não compreendeu este benefício supremo. Ingrato e indócil, ele se arredou orgulhosamente do seu Criador, para se perder nas vias da infidelidade. Mas Deus, longe de o condenar a um eterno esquecimento, facilitou-lhe a sua graça, estendeu-lhe a mão protetora e ofereceu-lhe o perdão.

A Redenção é, portanto, um novo ato de amor.

Por que é que o Filho de Deus se encarnou na natureza humana?


Por que se encarregou de expiar os pecados do mundo?

Por que morreu como uma vítima sobre a cruz?

A todas estas perguntas o Evangelho não dá senão uma só resposta: “Sic Deus dilexit mundum”. “Assim é que Ele nos amou”.

Estas divinas graças que se chamam sacramentos, o que são elas, senão atos de amor?

É por estes canais misteriosos que a vida, brotando do coração de Jesus Cristo, chega até nós com uma profusão perene, para nos purificar e nos santificar.

Os mandamentos e os conselhos evangélicos são igualmente atos de amor: “Tu amarás, tu perdoarás, tu serás misericordioso! Tu serás perfeito como teu Pai celeste é perfeito!”

Todas as palavras, como todos os atos evangélicos, são efusões do divino amor. Escutemos o Salvador. Quantas vezes Ele nos diz: Eu vos amo! Ele faz mais: para no dar a medida do seu amor, declara que nos ama como seu Pai celeste o amou. “Sicut dilexit me Pater et ego dilexi vos”: isto é, que Ele transporta a nós toda a imensidade de amor de que Ele próprio é objeto; de sorte que a voz do céu que proclama que Jesus Cristo é o Filho bem amado em que o Pai depos o seu amor e delicias, esta voz celeste se pode aplicar de ora em diante a todos os filhos de Deus. O Senhor, diz o Evangelho, tendo amado os seus os amou até ao fim; isto é, até as ultimas extremidade de um amor infinito. Ele justifica esta palavra pelas maravilhas do seu poder. Como uma mãe que nutre seus filhos de seu próprio sangue transformando em bebida maternal, Jesus Cristo abre o seu coração para se derramar em seus discípulos! Ele os nutre de sua própria vida e do suco do seu amor.

Como relatar os inumeráveis testemunhos da ternura de Jesus Cristo? A sua predileção é pelos pequeninos: Ele os acaricia, os abençoa e os chama ao Seu coração. A cegueira de Jerusalám, em vez de indignar a sua justiça, excita a sua compaixão. Ela acolhe os pecadores e os perdoa: “Que aquele que não tem pecado – diz Ele – lhe atire a primeira pedra!” Ele é acessível aos pobres, aos enfermos, a todos os que sofrem e gemem; soluça com Marta e Maria sobre a sepultura de Lázaro; e comove-se a vista das lágrimas de uma pobre mãe que seguia tristemente o caixão do filho. Ele consola essa mãe aflita e em seu favor opera um milagre: Não choreis, diz-lhe. E entrega-lhe o filho ressuscitado.

Que diremos nós da sua inexaurível benevolência, mesmo para com os seus detratores, os seus inimigos e os seus algozes? Que bondade! Que misericordiosa paciência! Até sobre a cruz, no meio dos tormentos e das angustias, Ele não tem senão pensamentos de amor.

No momento em que expira, Ele roga por aqueles que o crucificaram; e, ao exalar o seu último suspiro, por cumulo de todas as suas dádivas, lega-nos sua própria Mãe! Ele quer que sua Mãe seja nossa Mãe; e, enquanto acende no coração de Maria o sol do amor maternal, abrasa o coração dos discípulos de todos os ardores da ternura filial.

Tal é a religião; tal é a doutrina da vida cristã! Certamente, não é com frias palavras que se pode dar uma idéia dela. Para bem apreciá-la, é preciso a amar; e para a amar, é preciso pô-la em prática. Os verdadeiros discípulos não são os que dizem: Senhor! Senhor! São os que, dóceis à palavra divina, traduzem a sua fé em ações vivas. Quando a fé se inflama, ela esclarece o espírito e se manifesta por uma vida santa.

Que a mãe cristã medite estes ensinamentos! São penosos os seus deveres, e o seu cálice se enche as vezes em demasia. Mas a ciência sagrada lhe dará forças, consolações e esperanças. Se, conforme o Evangelho, tudo é possível àquele que crê, quão poderoso deve ser aquele que ama! Amai, e vós tereis a chave da Divina Teologia. Amai, e o Espírito de Deus vos instruirá diretamente com uma unção luminosa.

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