
O que se operou instantaneamente sobre o monte Tabor,
gradualmente se deve reproduzir em cada discípulo de Jesus Cristo, pois a vida cristã,
considerada sob um aspecto elevado, não é mais do uma incessante
transfiguração. A divina semente encerrada em seu seio germina e pouco a pouco
se desenvolve, como o botão de flor que se abre e, tingindo-se de lindas cores,
apresenta ao sol, despido já de seus envoltórios exteriores, um ser novo — a
corola — cheio de graça e de encantos.
O coração do cristão é um campo de surpreendente
fecundidade; simetrias misteriosas ai existem ocultas e, sob a casca da sua
natureza carnal, palpitam germens esplendidos que não esperam mais que um sinal
para jorrarem em ondas
de luz.
de luz.
Oferece-nos a natureza uma bela analogia de tão
maravilhosa transformação nesse conhecido inseto, que, depois de haver
rastejado vilmente pela terra, rasga a sua nojenta mortalha e desprende as asas
azuis para voar cintilante ao céu.
Toda a ação da graça tende a produzir este movimento
de renovação. Os sacramentos não têm outro fim; uns nos purificam extirpando de
nossa natureza os elementos maus, outros nos santificam e nobilitam,
transmitindo-nos os dons sagrados do Espírito de Deus. O papel do homem, nesta
operação misteriosa, consiste em secundar a graça; e ai está, com efeito, a
obra da educação cristã, cujo fim último é fazer que a moralidade triunfe sobre
os instintos materiais; a luz, das sombras da ignorância; as atrações celestes,
das tendências e dos apetites grosseiros. Conseguintemente, a educação se exerce
sem interrupção durante toda a vida, pois que é a obra de um aperfeiçoamento
progressivo que deve rematar em uma transfiguração total.
O que a educação realiza no homem individual, deve a
civilização operar nos povos e nas sociedades. Seria uma imperdoável
inadvertência não ver na civilização senão um requinte de luxo e de gozos terrestres.
A Igreja, a civilizadora do mundo,
sempre se propôs outro fim.
sempre se propôs outro fim.

A história atesta que fora desta via não há real aperfeiçoamento.
Os homens podem, pelo seu gênio ou pela sua indústria, obter um bem estar superficial
e criar magnificências, e fictícios esplendores, semelhantes às iluminações dos
fogos de artifício, que produzem um dia pálido e fantástico no meio de uma
noite melancólica.
Mas nem estas ilusões brilhantes seriam capazes de
substituir a abobada resplandecente do céu, nem os progressos realizados fora
do cristianismo poderiam constituir de fato uma civilização sólida feliz e durável.
O homem tem o pressentimento instintivo de um destino glorioso. Ele se
envergonha da sua indigência e da sua nudez, cobiça vestimentas ricas, gosta de
se cobrir de ouro e de pedrarias e sonha coroas e galas; e este luxo mesmo em
sua louca extravagância, não faz mais que atestar a sua ingênita necessidade de
renovação e de esplendor.
Mas, ó vaidade das vaidades! Decora-se a fachada do
edifício e esquece-se na sombra o santuário que ameaça ruína. De que serve ornar
o que deve perecer, se se abandona e degrada o que ha de subsistir eternamente?

O lustre da verdadeira beleza é um reflexo do nosso ser
imortal e, entre os seus encantos, nenhum há mais amável do que o pudor. Sim,
esta pérola das virtudes brilha magnificamente na fronte da jovem; é a insígnia
da sua honra, e a glória da sua consciência e o começo da sua transfiguração.
É necessário que a mãe cristã procure transformar-se
de dia em dia para servir de modelo a seus filhos. A sua vida deve ser como um
espelho onde se reflita somente o que é honesto e santo; e pelo exemplo, bem
mais do que pelos conselhos, deve ela influir no coração dos que a amam. Possa
ela enfim dizer a seus filhos o que S. Paulo dizia aos fiéis de Corinto: “Imitatores mei estote, sicut et ego Christi”,
“Imitai-me, como eu imito a Jesus Cristo.”
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