Como
são bons os teus tabernáculos, ó Deus das virtudes! A minha alma palpita
ansiosa de se abrigar em teus átrios; pois, se o pardal sabe onde há de
recolher-se para passar a noite e a andorinha vai direita ao beiral onde fez o
seu ninho: quanto a mim o que desejo, o que procuro, é refugiar-me em teus
altares, ó Senhor, meu Rei e Deus meu! Bem-aventurados os que moram em tua
casa; estes te louvarão eternamente! Sim, bem-aventurados todos os que, neste
vale de lágrimas, buscam refúgio em teu seio e aí, levados nas ascensões
celestes, sobem de virtude em virtude, como de montanha em montanha, até à
divina Sião onde em êxtase contemplam a face do altíssimo (Psalmos. 84). Se
assim suspirava o real salmista, quanto se deve a alma cristã enternecer em
presença do tabernáculo! O Deus de amor se acha entre nós; é o “Deus oculto”,
de que fala Isaias, que nos oferece o maná do céu e o cálice da imortalidade.
“Eis-me aqui – diz-nos o Senhor – eu convosco estou até à consumação dos
séculos”. Que inefável mistério!
O
altar é o trono do Santo dos Santos e o ponto central da devoção cristã. Dele
jorram as graças e os dons de Deus e dimanam as águas vivas que fazem brotar as
flores da santidade.
Os
esplendores do tabernáculo são misteriosos e invisíveis, velados como ficam
pelo mistério do Sacramento; pois, se na pátria celestial o Altíssimo está
rodeado de inúmeros espíritos que lhe rendem adorações dignas dEle, aqui na
erra, Deus não reclama senão a homenagem de nosso coração: “Fili, praebe mihi cor tuum”. Também o culto do augusto Sacramento
é essencialmente uma adoração em espírito e em verdade. A intenção de Jesus
Cristo, tornando-Se assim invisível a nós, é elevar-nos acima das coisas deste
mundo para nos atrair com Ele às regiões sobrenaturais. É para isto, diz São
João Crisóstomo, que o Deus do amor, presente no santo altar, esconde aos
nossos olhos as suas magnificências.
Ele
não se revela senão na alma recolhida e não reside entre nós senão para
conquistar o nosso amor. Ele ai está, não para se mostrar, mas para nos atrair,
para nos ganhar, para nos contentar. Aí está, enfim, porque Ele nos ama e nos
ensina a amar, porque Ele se dá e nos ensina a nos darmos, porque Ele se imola
e nos ensina a nos imolarmos.
Não procureis, em
vossas visitas ao Santíssimo Sacramento, sensações de ternura. A devoção
sensível raras vezes é profunda e está sempre exposta a ilusões. Ela
provém, segundo a acepção da palavra, do fervor dos sentidos; quando,
entretanto, a nossa vontade é que deve ser fervorosa e ardente. “Não me Toqueis
– disse Jesus Cristo – porque eu não subi ainda para junto de meu Pai”; frase
esta que São Bernardo interpreta do seguinte modo: não vos ligueis aos sentidos
corporais que se enganam, nem à razão que se perturba nem à natureza que é limitada,
mas apoiai-vos na palavra de Jesus Cristo, que é a verdade imutável. No céu é
que havemos de contemplar as perfeições da Majestade divina; aqui na terra
gozamos apenas as primícias desta felicidade e nos preparamos com todas as
nossas forças para plenamente a possuir e deliciosamente a saborear nos êxtases
da eternidade.
Todavia,
neste mistério, Nosso Senhor não é diferente do que era durante a sua vida
terrestre. Sempre bom, indulgente, misericordioso e terno, é acessível a todos
os que a Ele se dirigem. Como outrora, Jesus quer sobretudo que se deixem ir a
Ele as criancinhas, pois que as ama com predileção, as abençoa e as acaricia e
ameiga.
Queremos
nós participar destas preciosas prerrogativas? Ele acolhe os homens de boa
vontade, ouve-os, levanta-os e fortalece-os.
A
sua mão toca untuosamente o coração abatido para vivificar a esperança e a
coragem. Jesus tem um balsamo infalível para as almas aflitas, que enxuga todas
as lágrimas, acalma as inquietações, abranda as penas do espírito e ativa a seiva
da caridade.
Se estais tristes, ide depor ao pé do
tabernáculo o fardo que vos oprime; e, se estais alegres, rendei graças ao Deus
das consolações. Onde podereis achar de fato inspirações salutares,
pensamentos fortes, motivos de inabalável confiança a não ser no seio do vosso
Pai? Tendes necessidade de repouso, aqui se repousa; tendes necessidade de amar e de ser amado,
aqui se ama e se é amado, aqui é a escola do verdadeiro amor.
O tabernáculo deve ser o principal refúgio
da mãe cristã, o asilo do seu coração, o santuário da sua esperança e o lugar
do seu repouso. É ai que ela reza por todos os que lhe são caros; que ela pede
e obtém; que ela procura e acha; que ela bate e lhe abrem. Ela sabe que
diante do altar é preciso dar para receber, mas que se recebe infinitamente
mais do que se dá e que o grão de incenso que ai se queima volta a nós desfeito
em um perfume de bênçãos.
Dizeis
contudo: Eu tenho pedido, procurado e batido muitas vezes, mas em vão; de modo
que, em contrário às promessas do Evangelho, o Senhor, que, em sua vida
evangélica, não deixou de atender jamais às preces de nenhuma mãe, parece, ai
de mim! Insensível às minhas!
Semelhante
queixa revela uma tentação. Deus ouve sempre, quer conceda logo, quer demore,
quer recuse; mas corrige os nossos desejos pouco previdentes e por vezes
intempestivos, interpreta-os de maneira a que se tornem em nosso proveito,
modera o nosso zelo que nem sempre é conforme à sabedoria e dispõe-nos a uma
submissão paciente. Eis a razão por que São Paulo quer que juntemos sempre
ações de graças às nossas preces e que sejamos reconhecidos a Deus seja qual
for o resultado aparente delas.
Além
disso há para nós, assim como para os nossos filhos, horas de graças ou
ocasiões favoráveis.
Aguardemo-las;
esperemos com paciência esses momentos propícios e deixemos obrar a Sabedoria
divina sem lhe pretendermos impor os fracos juízos da nossa própria sabedoria.
“Eu esperei muito, mas não cansei de esperar – dizia o Salmista – e afinal o
Senhor olhou para mim e atendeu a minha
prece” (Salmo 39). Ser-vos-ia útil dizer em qualquer circunstância: Seja feita
a vossa vontade e não a minha! E eis ai precisamente o que não dizeis, ou ao
menos o que não pensais, se acaso o dizeis.
A
vossa inquieta solicitude se afrouxa quando Deus vos não concede imediatamente
o que lhe pedis; pois quereis se atendida à hora que soa na terra, posto que
essa hora não tenha soado ainda no céu.
Para
vos expandirdes diante do altar, não é mister um grande fluxo de palavras: a
devoção ao Santíssimo Sacramento exige apenas uma disposição calma, submissa e
confiante. Exponde silenciosamente as vossas súplicas perante Aquele que lê no
fundo dos corações: “deleitai-vos no Senhor, e ele atenderá aos vossos desejos;
esperai em Deus, e ele satisfará ao que desejais”. Dizem que as flores
reproduzem, na sua admirável variedade, as formas diversas dos astros a que
correspondem. Seja como for, elas se conservam tranquilas nos seus pedúnculos,
sem se preocuparem com isso, haurindo suavemente a luz do sol que as aquece; e,
pouco a pouco, aponta a sorrir no fundo dos seus Cálices o fruto saboroso.
É
assim que se dilatam as almas amorosas ante os tabernáculos do divino Amor.
Tranquilas e recolhidas ante o sacro foco da bondade divina, elas absorvem com
delicia os raios que daí emanam, e tornam-se boas comungando com a Bondade,
misericordiosas, comungando com a divina Misericórdia. A sua atitude humilde e
piedosa, o ardor dos seus santos desejos e as aspirações veementes da suas
esperanças fazem partir do altar as centelhas das virtudes divinas; e assim se
reproduzem admiravelmente nelas mesmas os traços da celeste perfeição, como
essas imagens vivas que a luz imprime entre os planos em que reflete.
O
Senhor disse no Evangelho: “Aquele que me vê, vê meu Pai”. E com efeito, Ele é
a substancia e o esplendor do Todo-Poderoso. Os reflexos do tabernáculo que se
projetam em nossas almas ai produzem um efeito semelhante; e a mãe cristã, toda
repassada dessas graças, se erguerá à imagem do seu Deus, de modo que, ao ver
as suas virtudes, a sua abnegação e a sua doce piedade afável e atraente, cada
um poderá dizer também: Aquele que a vê, vê Jesus Cristo.
A
vida humana não é mais do que a flor de um dia, mas quando esta flor se
descerra ao influxo da Religião, uma misteriosa transformação nela se opera, de
que resulta um fruto imortal.
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