Há duas educações bem distintas:
a educação moral e a educação intelectual. A primeira cultiva as potencias da
alma e a segunda desenvolve as faculdades do espírito. Devem ambas concorrer
para o mesmo fim, que é aperfeiçoar o homem, isto é, elevá-lo à altura do seu
verdadeiro destino.
Uma das aberrações da nossa
época é subordinar a educação moral à cultura da inteligência. Esta absorve o
homem inteiro, deixando a alma estéril.
A educação em geral não é mais
do que uma norma, um meio, ou antes um indicador da estrada a seguir. Nestas
condições, ela pode ser boa, salutar e cristã, ou má, perniciosa e pagã,
segundo o fim que se propõe e que busca atingir.
A primeira condição da educação moral é, pois, o conhecimento dos
destinos últimos do homem, condição sem a qual nenhuma direção é possível. Que
itinerário quereis vós traçar ao viajante que embarca sem saber a que lugar
vai?
Que direção tomará vosso filho, se ignora o fim a que deve tender?
A linha de conduta de cada um há de necessariamente ligar o ponto de
partida à baliza final e, esse termo superior é ignorado ou esquecido, a vida
humana se gastará em inúteis giros e circunvoluções que rematam sempre no
abismo.
Trata-se de conduzir o homem ao seu fim verdadeiro: tal é o grande
objeto da educação moral.
Porquanto, se a luz do evangelho vos iluminou o espírito, se não
nutris nenhuma ilusão acerca da brevidade e rapidez da vida e se a fé cristã,
enfim, anima as vossas esperanças e as vossas aspirações, deveis fazer que
vossos filhos sejam filhos de Deus e educá-los para o céu ainda mais do que
para a terra.
Esta simples verdade deve dominar todos os ensinamento, todos os
exemplos e todas as solicitudes. Uma tal verdade, admitida sem dúvida em
teoria, é geralmente renegada na prática onde, longe de lhe aceitar as
consequências, a educação moderna as desmente. Não se forma o cristão senão
para este mundo, esquecem-se as condições do seu desenvolvimento futuro, não se
cuida da sua eternidade; e tamanha negligência, que passa do indivíduo para a
família e da família para a sociedade, entibia e deturpa a vida cristã,
privando-a ao mesmo tempo da sua grandeza e da sua energia. A educação segue
sempre um caminho errado, quando se coloca fora do princípio cristão ou vai de
encontro a este.
Ponhamos em relevo esta importante observação, sem desprezarmos
outras de menor vulto e mais particulares.
Acreditamos que em geral os pais cristãos desejem antes de tudo a felicidade
eterna de seus filhos; mas de fato e em contrário a isto, impelem eles as
jovens almas por um caminho diametralmente oposto ao que deveriam seguir; e,
por uma cega inconsequência, diminuem de um lado os meios de os santificar,
enquanto de outro lado acumulam as causas que concorrem para os perder.
Assim, para tocar de perto os fatos, o Evangelho nos adverte que os
bens deste mundo são obstáculos na via da salvação: “Em verdade eu vos digo que
é difícil um rico entrar no reino de Deus” (São Mat. 19,23). Porquanto,
acrescenta um apostolo, “os que se querem enriquecer caem nas ciladas de
Satanás e por seus desejos imoderados são arrojados à perdição” (I Tim. VI).
Este aviso é grave; e, todavia, a principal ocupação não tem por objeto senão,
quase que exclusivamente, prodigalizar aos filho
as riquezas e os bens da terra.
O amor do mundo, segundo o Evangelho, é uma desafeição a Deus.
“Eu não intercedo pelo mundo – diz Jesus Cristo – escolhi-vos e
tirei-vos do mundo, porque este não pode receber o espírito da verdade”. E o
grande apostolo São Tiago declara “que
aquele que deseja ser amigo do século se torna inimigo de Deus” (Epist. São
Tiago, IV). Como conciliar a doutrina evangélica com as estranhas impulsões que
a nossos filhos damos? Como combiná-la com uma ambição que não sonha para eles
senão os favores, as homenagens e os aplausos do mundo? Evidentemente, grandes
ilusões nos ocultam as perspectivas da verdadeira felicidade; e nós não nos esforçamos por obter, para as
almas que nos são confiadas, os bens da vida imortal. Iniciamo-las nos
segredos de agradar e de captar as glórias, as honras, a fortuna e só a última
das nossas solicitudes é que é empregada naquilo que justamente devia
prevalecer a tudo mais.
Nós não somos por certo hostis às belas artes, que ao contrário
apreciamos e admiramos, mas o que não podemos admitir é que se deixem perder
com elas as melhores horas do dia e os mais frutuosos anos da vida e sem outro
fim, contudo, senão fazer que um moço ou que uma jovem cristã brilhe entre as
pompas fúteis de um salão. Não se tome por pretexto a importância desses belos
dotes, dessas extraordinárias prendas, para atrair a atenção e facilitar bons
casamentos: é um erro. As aptidões
artísticas não constituem as qualidades de uma mulher cristã. A experiência
prova aliás que as artes recreativas, que consomem a maior parte da mocidade,
se tornam pelo menos inúteis na idade madura, sendo que muitas vezes introduzem
no seio das famílias um elemento de discórdia e de decadência.
Não queremos dizer com isto que se deva romper com a sociedade ou
renunciar a uma cultura intelectual que é um dos encantos dela.
Longe de aprovar a ignorância das coisas deste mundo, desejamos que
a jovem cristã, assim como o rapaz, estude as artes e as ciências e que a
instrução seja completa. Mas as artes
são meios simplesmente e não um fim. O que não compreendemos é este adágio
moderno: a arte pela arte! Isto é o mesmo que dizer que não se fala senão para
falar. As artes, como a linguagem, devem ser maneiras de exprimir ou vias de
transmissão da verdade e assim no devem instruir e edificar, simbolizando o
verdadeiro, o belo e o bem, sob formas sensíveis e atraentes. Só nesse caso é
que elas são dignas de honras e elogios. Mas quando, inúteis à sua missão, se
desviam do ideal sublime pra ir buscar o seu alimento no baixo realismo da
matéria, então caem elas na ignomínia e se tornam semelhantes ao abutre que
desce das nuvens para se repastar em podre carniça. O intuito de um artista
deve ser atrair-nos às regiões celestes e contribuir de algum modo para a nossa
educação e aperfeiçoamento. O pintor, o orador, o poeta, o artista em suma que,
encantando-nos com as suas obras, tem por fito único acender o nosso entusiasmo
e regozijar-se com a nossa adoração, bem pode ser um gênio extraordinário, mas,
por falta de uma iluminação superior, pactua com as mais detestáveis doutrinas.
Se quereis inspirar a
vossos filhos o amor do bem, preservai-os principalmente dos maus livros, cujo
menor inconveniente é embotar o senso do verdadeiro e o gosto das coisas
sérias.
O
bom gosto é inseparável do sentimento da verdade.
No plano dos estudos deve ocupar
sempre a doutrina cristã o lugar principal, pois que ela é que nos introduz na
ciência de Deus, do homem e do mundo. Ela expõe ao mesmo tempo os princípios da
mais alta filosofia e a série de graças que abraçam os séculos e toda história
humana e pelo seu método lúcido, simples e ao alcance de todas as idades,
deposita nas jovens almas os fundamentos da vida moral. Ao estudo da religião é
que se devem ligar as outras disciplinas, como os ramos de uma árvore ao respectivo
tronco. Convém que a moça, não menos que o jovem estudante saiba escrever com
facilidade, simplicidade e elegância, não para compor narrações fabulosas, mas
para polir as relações e enriquecer a correspondência dos corações e dos
espíritos. Tenha cada um seu estilo próprio e não imite o dos outros, pois que
o estilo epistolar não é uma arte e deve ser portanto a natural expressão do
verdadeiro. Não tomeis por modelo as cartas da senhora de Sévigné, pois o
estilo que pretende imitar os encantos da sua simplicidade, um pouco afetada
aliás, não vale mais que a brilhante moeda que pelo tinir se conhece ser falsa.
Leiam-se as cartas de são Jerônimo, de
são Francisco de Sales, de Bossuet e de Fênelon e as que o padre Lacordaire
dirigiu aos jovens cristãos, leitura nutriente e instrutiva que forma ao mesmo
tempo o coração e o juízo. Outras obras antigas e modernas exercitarão as
faculdades intelectuais e ornamentarão a memória; a religião vo-las fornece com
abundância e os homens de saber vos poderão indicar uma rica nomenclatura
delas.
A educação é o trabalho de toda
vida.
O homem sofrerá influência dela
até ao seu último dia. É desde a tenra infância que se deve endireitar uma
alma, como, desde os primeiros dias o pequenino arbusto que, sem isto, ficaria
torto e penderia para a terra, não podendo erguer nunca mais ao céu a copa
virente e coroada de flores.
Que as mães cristãs se esforcem
por modificar, tanto quanto lhes for possível, os vícios da educação!
Compete-lhes abrir e desbravar os caminhos em que devem marchar seus filhos e
pô-los em harmonia com os destinos imortais. Elas firmarão nestes entes queridos
as raízes de uma virtude sólida, se lhes inspirarem o temor de Deus, que é o
começo da sabedoria. Este temor,
sentimento delicado, respeitoso e filial, que se não deve confundir com o medo,
protege a consciência, preserva a inocência e submete o homem a seu Deus.
As primeiras lições maternas não
se esquecem jamais; jamais vossos filhos as esquecerão! E quando, no correr da
vida, venham a topar escolhos nunca perderão a esperança, pois hão de
lembrar-se de suas mães, e sob os traços delas verão de novo a religião
salvadora. Escusado é dizer que os mais engenhosos cuidados da educação seriam
inúteis, se o exemplo os não viesse corroborar. Sem esta sanção a palavra
ficaria sem virtude e sem ascendente.
Reclamareis em vão o respeito e
a submissão dos que vivem sob a vossa autoridade, se desconheceis na prática uma
autoridade superior a vossa e a de todos. Para que o espírito de família se
conserve e se comunique, remova os obstáculos e reine sem oposição, é
necessário que ele seja lealmente cristão, isto é, fiel a Deus e dócil a Santa
Igreja.
Que a mãe se compenetre da
grande parte que lhe incumbe na obra da educação dos filhos e que a sua
influência piedosa, benéfica e inteligente edifique o lar da família. Nestas
condições, seus filhos, amados de Deus, se tornarão homens íntegros para o
mundo e anjos para o céu.
Oh! Benditas são as famílias em
que as graças do espírito cristão se propagam de pais a filhos e de geração em
geração! “Eles hão de ser fartos de bens – diz o profeta – hão de saborear em
paz os frutos dos seus sacrifícios e hão de gozar de uma posteridade digna
deles”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário