A
mãe conscienciosa não desdenha descer às menores particularidades da vida
doméstica; e não seria capaz de grandes coisas aquela que se desleixasse nas
pequenas.
No
cumprimento dos seus modestos deveres, há dois extremos a temer: a lentidão e a
precipitação. Mas uma atividade calma e prudente regulada evitará essa dupla
escolha. O agricultor distingue os trabalhos de cada estação, abstendo-se
sempre de inverter as condições da cultura; planta, rega, aduba e limpa,
colhendo cada fruto em seu tempo próprio; não adia jamais para o verão o que
deve ser feito no inverno, nem arrisca as ultimas colheitas do outono pela
imprevisão da primavera a vir.
A
mãe cristã também tem a seu cargo uma cultura bem delicada. A sua arte consiste
em prever o presente e em prever o futuro; sendo que qualquer adiamento ou
descuido nesta grave ocupação se tornaria uma causa de desordem e de ruína. É
imperdoável o desleixo da mulher que, por falta de coragem ou zelo, perturba a
prosperidade da sua casa.
A
negligência nos interesses da família é, além de tudo, um péssimo exemplo para
os filhos.
Descura-se
muito em geral a educação doméstica das moças cristãs. Conviria iniciá-las
gradualmente nos cuidados da economia interior. Como poderá ela dirigir um dia
a sua casa, a sua família e os seus criados, se ignorar os diversos ramos e as
particularidades múltiplas de uma administração tão complicada? Bem digna de
lástima é a mulher, e sobretudo o seu esposo e os seus filhos, quando ao lar doméstico
falta essa condição de ordem e de felicidade.
Outro
defeito, contrário à lentidão, mas não menos comum, é uma excessiva mobilidade
e vivacidade em tudo, que tudo transtorna e perturba. Um relógio que se adianta
de mais tem os mesmos inconvenientes do que se atrasa. A agitação e as
efervescências do espírito são sempre para recear, mesmo na prática do bem.
“Marta! Marta! Com muitas coisas te agitas e uma só te é necessária”!
Esta
coisa necessária é a obra atual ou o serviço em que presentemente estamos
empregados. É um erro querer abarcar ao mesmo tempo muitas ocupações diversas,
em lugar de exercer separadamente e por sua vez cada uma delas.
Os
excessos de zelo são como um turbilhão que atordoa e desatina, não somente os
que lhes servem de alvo, mas também os que a eles assistem. E quando é uma mãe
que se abandona a essa contínua e delirante correria, em vez de atrair, afasta
ela do seio da família os que ai vêm buscar o descanso e o sossego.
Que
a mãe cristã evite sobretudo, para si mesma e para os outros, os excessos de
zelo religioso. Excitar, aguilhoar descomedidamente as almas, é ultrapassar o
fim proposto e chegar a um resultado contrário àquele que se tinha em vista.
Convém sugerir as boas ideias, mas não as impor; convém favorecer o desenvolvimento
dos bons desejos, mas não os precipitar. Os mais simples exercícios de devoção
se tornam fastiosos, quando feitos constrangidamente ou contra a vontade.
Vossos filhos, desde os seus mais verdes anos, têm o sentimento irreflectido de
uma certa dignidade; e quanto mais respeitardes este sentimento, aclarando-lhes
em todo o caso a consciência, melhor favoreceis o desabrochar de uma piedade
sólida e verdadeira. A jovem alma que instintivamente se furta a uma direção
imperiosa, de boa vontade cede às impulsões persuasivas, amáveis e oportunas.
A
solicitude material deve imitar os processos da graça. Ora, a graça é paciente,
complacente e insinuante, e nunca se fatiga, nem se perturba, nem se irrita,
porquanto ela toda é só mansidão e longanimidade. Pois, com estes predicados
evangélicos, é que deve aparecer a realeza da mãe no governo da sua família e
da sua casa.
Todavia,
a solicitude de uma mãe seria incompleta se ela a concentrasse unicamente em
seus filhos; é preciso passar além, estendendo mais longe a sua ação.
Referimo-nos aos deveres das senhoras com relação aos criados, deveres de que
em geral se faz muito pouco caso, o que é prejudicialíssimo para a família e
para a sociedade. Todo o mundo o diz e a experiência o atesta: são os bons
senhores que fazem os bons servidores. Em outros tempos, quando os costumes
eram verdadeiramente cristãos, consideravam-se os servos como membros de
família e, nesta qualidade, eram eles admitidos à prece comum e tratados com
paternal benevolência.
Deste
modo tomavam os criados interesse pela prosperidade da casa e os amos podiam
contar com a fidelidade e dedicação deles.
O
enfraquecimento do espírito cristão tem relaxado estes laços evangélicos; do
que resulta ficarem os nossos filhos frequentemente expostos a tantas
influencias maléficas.
É
ainda à mãe que pertence obviar a este perigo. Que ela seja mãe, não somente
para aquele a quem deu a vida, mas também para todos os que vivem sob o seu
olhar! Que ela tenha para todos, palavras de animação, simpático gesto e maternal
bondade.
Este
sentimento de benevolência não seria desejável também para com os jornaleiros
que trabalham em vossas casas? É um hábito mau e muito repreensível não se
importar absolutamente com eles; ver só a obra e esquecer ou desprezar o
trabalhador. Como seria fácil, entretanto, com alguma palavra, com alguns
sinais de atenção ou com alguns obséquios mesmo, animá-los e contentá-los! São
homens que causam pena, às vezes; pobres e laboriosos pais de família, ou
estrangeiros saudosos da pátria distante, ou filhos que choram a mãe ausente ou
morta, ou corações, quem sabe? Ulcerados por ignota dor; e quão felizes seriam
talvez com um simples gesto ou palavra de simpatia e animação!
Não
é uma esmola que vos pedem; eles se contentam só com isto. Por que lhes recusar
este pouco?
A
caridade tem a inteligência dessas coisas todas e possui segredos cuja mágica
virtude traz balsamo às dores, dilata o reconhecimento e consagra todos os
deveres do lar cristão.
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