Não há exortação mais repetida
no Evangelho do que esta: Vigilate,
orate. “Vigiai e orai!” Estas duas palavras resumem todas as regras da
sabedoria cristã e tendem a evitar-nos as surpresas da morte. “Estai atentos –
diz Jesus Cristo – pois não sabeis nem o dia nem a hora”. Vigiai sobre vós
mesmos afim de que a morte não chegue no momento em que menos a esperardes:
Ei-la a bater à vossa porta! “Insensatos, de que vos servirá conquistar o mundo
inteiro, se perdeis vossa alma! O sol se porá ao meio dia – continua o profeta
– e a terra se cobrirá de trevas na hora da luz” (Amós VIII).
Quer isto dizer que, quando o
homem se julgar em plena posse da vida, quando sonhar fortuna, gloria e
prazeres, quando supuser, enfim, que nada mais lhe resta fazer, senão gozar,
repousar e amontoar tesouros verá ele desabar com horrendo estrondo, inesperadamente,
todo esse frágil edifício. Que pavoroso trovão num céu sem nuvens! Que
irremediável decepção para o insensato que tudo havia previsto, exceto esta
terrível catástrofe!
Pelo seu lado, a Igreja não
cessa de repetir, com as palavras do Evangelho, as advertências do príncipe dos
apóstolos: “Sêde vigilantes e circunspectos, porque o vosso maior adversário,
satã, vos rodeia a bramir, procurando perder-vos”.
A vigilância cristã é uma
consciência atenta; é a circunspecção da alma previdente; é a lâmpada que
alumia os nossos passos e a sentinela que se posta à entrada do coração. O
serviço é observar tudo o que entra e sai. Ela afasta as impressões perigosas,
impede os atos de presunção e soberba, evita as ciladas, foge às ocasiões de
pecar, repele os impulsos tentadores, resiste ao inimigo infernal e protege
todas as virtudes.
A vigilância é a companheira da
prece; exercendo-se juntamente, mutuamente se ajudam e não se pode contar com
uma, quando a outra a não acompanha.
A prece e a vigilância não se
aplicam somente à vida intima da alma; devem ambas estender a sua ação sobre
todas as forças e funções da alma e dominar todos os sentidos.
E isto, para uma mãe, ainda não
é suficiente, pois não lhe basta velar sobre si mesma: cumpre-lhe velar sobre
seus filhos e sobre a sua família e, semelhante à estrela da manhã, esclarecer
com o doce olhar todo o firmamento da sua esfera de atividade. Eis ai o seu
grande dever, apreciado sempre, e tantas vezes negligenciado.
Atualmente, exalta-se a mulher,
poetiza-se a sua missão, querem-se mulheres livres e artistas sábias e
ilustres: não se trata, porém, da mulher cristã, esquecendo-se assim a condição
principal que protege e salvaguarda a família.
A vigilância maternal se deve
exercer no lar doméstico, dirigindo-se a todas as perspectivas do presente e do
futuro; mas o serviço que mais imperiosamente reclama essa vigilância é o da
educação. E aí, contudo, quanta negligencia e quantos abusos, que são a causa
mais ordinária dos desgostos que sofremos com os desregramentos e desvios dos
entes que amamos mais!
Christian Owens, menino inglês de 16 anos que fez seu primeiro milhão de dólares com sua mãe de funcionária. |
Seguramente, queremos que os
nossos filhos sejam cristãos, isto é, filhos de Deus e herdeiros do céu, mas,
ao inverso dos meios que poderiam conduzi-los a este destino glorioso,
educamo-los como se só tivessem sido criados para a vida presente; e os
cuidados que lhes prodigalizamos são mais para os fixar sobre a terra, do que
para os elevar um dia ao céu. Fascinados por uma inconsiderada ambição, mais
cogitamos nas vantagens de uma existência fugitiva, do que nos bens imortais e
nos dons do Espírito de Deus. Desejamos que, desde a mais tenra idade, os
filhos se tornem pequenos prodígios para que os triunfos do seu precoce talento
projete sobre nós um reflexo de glória. Vaidade
impensada que ordinariamente sofre decepções cruéis. A vigilância cristã
saberia preservar as famílias de tão frequentes desgraças.
O assunto é grave!
Assinalaremos, sem os atenuar, alguns dos mais vulgares abusos. Há mães, aliás
ternas e dedicadas que, menosprezando os mais sublimes conselhos da prudência,
confiam seus filhos a pessoas de costumes duvidosos ou a educadores que vivem
fora dos princípios da fé. Prescindem elas do menor escrúpulo em tal caso, sob
o pretexto de que os filhos, pela sua pouca idade, estão ainda isentos de
sofrer influencias perniciosas; mas esquecem que as impressões recebidas na
meninice são vivas e duradouras e que muitas vezes se conservam na alma,
durante todo o curso de uma longa vida, germens que nos primeiros anos a
envenenaram.
Se vos censurarmos por levardes
os filhos ao teatro, replicareis dizendo que São Francisco de Sales tolerava
esse passatempo.
Pois bem, mais se seguísseis com
a mesma docilidade os conselhos de São Francisco de Sales, o perigo seria
talvez menos para temer-se. O nosso grande santo não quis de certo proibir essa
espécie de distração à idade madura, mas duvidamos que a tivesse permitido aos
adolescentes. Demais, é bom considerar que naquele tempo o teatro não era o que
hoje é. Os próprios títulos das atuais obras dramáticas, só por si, indicam a
degradação do bom gosto e a deplorável decadência dos costumes públicos. E como
se poderão educar jovens almas embotadas nesses monstruosos espetáculos que superexcitam a imaginação, ferem o pudor e destroem o senso moral?
As crianças que vão a teatros meditam as cenas a que assistem e procuram
imitá-las. A inocência ai recebe fundos golpes quase sempre e sobeja maus
exemplos para perverter lastimavelmente os tenros filhos com grande magoa para
os pais que lhes permitem semelhantes distrações. Mas quem semeia ventos, colhe
tempestades... outro abuso é o dos bailes infantis, que se consideram uma
diversão muito inocente, mas que nos parece das mais perniciosas, por ser uma
triste iniciação da criança nos tumultos da vida. Estes divertimentos precoces,
a que as próprias mães conduzem os filhos, foram inventados para a perda das
almas. Neles é que a vaidade começa a germinar com todos os seus espinhos e que
se contraem as inclinações, os atratativos e gostos que mais tarde hão de
explodir, quiçá em paixões, ciúmes e cóleras.
Ouvimos já dizer algumas jovens almas: Eu gostava do trabalho e da
oração e era feliz; mas, depois daquele baile, não pude mais trabalhar nem
rezar e sou muito desgraçada.
Há certos brinquedos infantis
que consistem em vestir e enfeitar bonecas e em que as meninas aprendem a ensaiar
as diferentes modas de vestuários e adornos e as várias combinações de luxo
moderno. Para que aplicar um espírito ainda novo aos mistérios da casquilhice
(o que é da última moda, muito enfeitado) e das festividades? Isto, na
aparência inofensiva, não passa de uma dessas aberrações cujas más consequências
são fáceis de prever.
O certo é que as brincadeiras da
infância se tornam realidades na idade madura; pelo que requer esse assunto,
não menos vivamente do que os outros, toda a atenção e vigilância por parte dos
pais.
Seria necessário lembrar também
às mães cristãs o dever de fiscalizarem as leituras de seus filhos, dever
capital que no entanto dificilmente se concilia com os costumes de hoje? É
verdade que se fecham a chave as bibliotecas de livros perigosos; mas ficam por
fora, expostas à curiosidade dos filhos e atraindo-lhes os olhares, as
estampas, as revistas, as brochuras e as publicações ilustradas de que algumas
páginas, lidas furtivamente e as pressas, lhes fazem nascer o desejo de ler
outras. Eles se esforçarão por compreender depois o que não puderam compreender
ao princípio, empregando nisto o melhor de sua atenção e os pensamentos de cada
dia; confundirão os romances de fantasias com os fatos do mundo real; sonharão
aventuras heroicas; aborrecerão a monotonia da vida da família; e, daí, as
amarguras, os queixumes, os desvarios e os passos desastrosos que lançam em
luto e consternação tantas famílias.
Que a vigilância maternal afaste
pois, estes perigos do lar doméstico! Que ela se oponha com coragem às
invasões, como às exigências e aos engodos do espírito do mundo!
Procurai para vossos filhos e
para vós mesmas distrações que não molestem a consciência, que não alterem a
piedade, que não embotem o sentimento da verdade e do bem e que não faltem
jamais ao respeito devido à religião e à família.
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