A
mãe dotada de um espírito ativo de ordem e direção possui um tato particular
que, em suas mãos, é como uma varinha mágica a operar prodígios.
Melhor
se mostra do que se define esse tato delicado, próprio das mães, que conhece a
primeira vista, como o olhar de um médico hábil, os pontos vulneráveis, os
momentos em que convém agir ou abster se, as circunstâncias em que é preciso
falar ou guardar o silêncio e que, em seus engenhosos expedientes, acha de
pronto o calor que aquece, o raio que ilumina, o balsamo que alivia e o sorriso
que consola.
Nada
poderia substituir este admirável discernimento; nem a ciência, nem o talento,
nem o gênio. É um dom que se desenvolve naturalmente, por si mesmo, e que
parece inato no coração das mães que têm inteligência da sua missão e a
consciência dos seus deveres. A sua sede é nas fibras íntimas do coração; e a
sua ação, quase imperceptível, se exerce bem mais pelo silencio do que pela
palavra. O tato vê tudo sem olhar; adivinha os pensamentos; responde sem interrogar
e dispõe de artifícios infinitos. Contudo deve estar sempre associado à
paciência e a prudência, por que a sua arte consiste em aguardar a ocasião
propícia e o seu triunfo resulta menos das combinações acertadas do que da
felicidade de chegar a propósito e aproveitar o momento oportuno.
As
mães a quem falta este fino tato ou que não desenvolvem estas impulsões
espontâneas, apesar de toda a piedade e de todos os bons desejos, vêem
infelizmente os seus cuidados e solicitudes se frustrarem. Fiando-se por demais
no seu juízo, que nem sempre é sólido, comprometem as melhores causas, ou pelos
passos intempestivos que dão, pelas volubilidades de um gênio caprichoso, ou
pelas irresoluções de uma natureza fraca.
O
principal móvel do tato maternal é um critério direito, isto é, mantido sempre
na linha da simples verdade. A mãe, cujo espírito se apoia nos fundamentos da
fé e que encara todas as coisas da vida sob o ponto de vista dos seus fins imediatos,
não tem que recear os desconcertos da imaginação, nem os desvios do
procedimento, nem as alucinações da vaidade.
Para
adquirir este precioso tato ou para o aperfeiçoar, quando se é ja dotado dele,
alguns conselhos podem ser úteis.
Primeiramente,
quanto às relações com as pessoas que vos cercam, se desejais sair-vos bem, é
mister que vos coloqueis ao alcance delas, pois só vos poderão compreender
quando as tiverdes compreendido, e, sem que vades até elas, não virão até vós.
O
Divino Salvador, todas as vezes que ensinava aos povos, descia da montanha. O Evangelho insiste sobre esta frase, e, com
efeito, a condescendência que se inclina para a fraqueza é o melhor meio de
ganhar os corações. Cada idade, cada estação, cada situação tem as suas
exigências. O tato atende a essas diversas circunstâncias, regrando por elas o
seu proceder.
Dá
a cada flor do jardim os cuidados que ela reclama, levanta as hastes que
pendem, decota os ramos que se entrelaçam, preserva do ardor do sol a violeta
tímida e umedece o cálice que se abre a exalar o seu primeiro perfume.
O
grande apóstolo soube fazer-se tudo: fraco com os fracos e pequeno com os
pequenos. Como uma mãe amorosa, ele nutria de leite a idade de leite e
distribuía à idade viril o pão dos fortes.
Este
discernimento, fruto da uma inteligente caridade, exerce sobre os espíritos
poderosa influência, a ponto de cativar e abrandar os mais rebeldes e
indomáveis. O que há de mais vantajoso e de mais desejável para a mãe do que
possuir a confiança dos seus filhos? Inutilmente ela a procurará possuir se não
tiver tato. Não se força a confiança, como não se impõe o amor; estes
sentimentos não correspondem senão a delicadezas e agrados. Do mesmo modo que o
amor filial se desenvolve
espontaneamente sob a ação do materno amor, a confiança do filho cresce em
harmonia com a confiança da mãe. Muito mais se consegue, em geral, com uma
bondade indulgente, do que com as exigências de uma autoridade minunciosa.
Queires vós penetrar nos segredos dessas jovens almas? Desejais conhecer suas
inclinações, as suas preocupações e os seus pensamentos íntimos? Não é difícil
isto. Lembrai-vos do que fostes na sua idade. O haveis sido então, eles o são
hoje; e o que em outro tempo experimentastes, eles por seu turno experimentam
agora.
Não
deixes que se reproduzam em vossos filhos as más impressões que dantes
sofrestes. Procurai para eles, ao contrário, o bem que teríeis apetecido e as
satisfações que teríeis almejado.
Governar
uma família, educar almas, e formar caracteres é uma arte custosa; é a arte das artes, diz um santo
doutor. Os que imaginam a ver só encantos e alegrias no meio de louros
filhinhos, não conhecem de certo a vida de abnegação e cuidados de uma pobre
mãe.
Os
desvelos que os seus filhos dia e noite reclamam põem à prova esse incomparável
espírito de dedicação que só as mães possuem. Ser mãe é um pesado e trabalhoso
ofício em que não há folgas nem feriados.
Todavia,
se nos múltiplos afazeres maternos, faltar o dom precioso a que nos referimos,
as melhores intenções ficarão estéreis.
O
mau êxito tem por causa muitas vezes o demasiado rigor ou a demasiada
indulgência. “Não poupeis a correção a vossos filhos – diz a Escritura – Ela dá
prudência e juízo; ao passo que o filho indisciplinado será a confusão de sua
mãe”. Não comprometais porém, a correção com os caprichos da severidade;
abstendo-vos sobretudo, escrupulosamente, de exercer tal ato nos momentos de
irritação e de mau-humor.
Corrige
vossos filhos, não porque eles humilham o vosso amor próprio, mas porque ferem
a consciência e transgridem a lei de Deus. Por vezes exiges de vossos filhos
uma perfeição que vós mesma não tendes, e assim, a força de serdes justa,
injusta vos tornais. Os filhos se fatigam com as repreensões que não cessam e
acabam por aborrecê-las. A palavra severa não produz salutares efeitos, senão
quando é sóbria e oportuna e quando a verdade a sanciona e a bondade a suaviza.
A
experiência de todo o dia contribui para o desenvolvimento do tato maternal,
pois as ocasiões em que vos não sairdes bem vos farão evitar cirscunstâncias
análogas. As faltas pesadas devem esclarecer a prudência e aperfeiçoar o
critério, e os remédios de que se reconhecem a ineficácia indicam a urgência de
recorrer a remédios melhores.
Os bons espíritos não desdenham jamais os conselhos e os exemplos, pois bem sabem tirar proveito, tanto do bom êxito dos outros, quanto do malogro dos seus próprios atos. Consideremos como amigos sinceros aqueles que nos chamam a atenção para os nossos defeitos e acolhamos as observações e advertências, de onde quer que elas venham; a verdade sai as vezes da boca de uma criança. Esta humilde disposição de espírito será extremamente proveitosa para as mães de família, por quanto muitas vezes a excessiva ternura transtorna e cega mesmo as que tem mais penetração, fazendo-as ir de um extremo ao outro, prostrando-as ante o objeto da sua idolatria ou torcendo-as nos vértices do desespero. Não exagerem as mães nem as qualidades nem os defeitos dos filhos; aceitem com reconhecimento os conselhos de uma imparcialidade experiente e desinteressada, e renunciem, se preciso for, a suas próprias opiniões, para adotar as dos outros: é assim que procede a sabedoria cristã.
Há,
enfim, uma prática recomendada pelos mestres da vida espiritual e que concorre
mais que todas as teorias para aperfeiçoar o tato das mães. Esta prática é o
exame de consciência. Uma vista de olhos lançada sériamente, no fim de cada
dia, sobre os atos cometidos durante ele; uma reflexão particular a cerca das
faltas mais habituais e um estudo atento e detido dos pontos fracos do nosso
caracter e das causas ordinárias das nossas culpas: eis o que forma a mais
importante de todas as ciências – a ciência de nós mesmos.
À
medida que nos formos conhecendo melhor, tomaremos também, com um experiência
mais madura, resoluções mais perfeitas; e se firme e severamente nos
propusermos corrigir-nos, ficaremos aptos para corrigir, por nossa vez, os
outros e para os dirigir com verdadeiro tato, circunspecção e felicidade.
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