Há na vida de uma mãe difíceis lances e provações que pedem conselho e balsamo.
Referimo-nos especialmente aos transes por que ela passa no momento de se fixar o estado ou a posição social dos filhos; transes que mil apreensões sobre as probabilidades de futuros perigos tornam por vezes dos mais dolorosos e terríveis. As ilusões que mais frequentemente comprometem a obra da educação se acham quase sempre nos projetos de casamento. Sonha-se uma grande fortuna, um nome brilhante, uma existência opulenta e farta e desgraçadamente as aspirações giram todas neste sentido.
Um perigo mais comum ainda se vem juntar a tão mundanos projetos: é a incrível precipitação com que são realizado; e daí uma tremenda responsabilidade perante Deus e perante os homens! A quantas lutas e cuidados assim muitas vezes nos entregamos, só para preparar, no entanto, futuras decepções e lágrimas.
Se nenhum negócio exige mais cautela e mais prudentes delongas do que a conclusão de um casamento, este, uma vez realizado, não requer menos, da parte de uma mãe, sobretudo, um delicado tino e uma abnegação generosa. Aceitar as condições da situação nova, ceder a outrém o primeiro lugar que se ocupava no coração de um filho, abdicar de algum modo os direitos e as prerrogativas da autoridade maternal; ah! É uma necessidade que às vezes custa muito, mas a que ninguém, contudo, se poderia subtrair sem provocar, mais cedo ou mais tarde, grandes dissabores e inevitáveis conflitos. A ternura de uma mãe não cessa nunca, mas deve então modificar-se e conter-se, pois a intervenção maternal que convém à jovem esposa é já diferente da direção vigilante que a filha solteira pedia. A prudência nos aconselha sempre a evitar complicações; e, em tais alternativas quanto mais circunspecção e modéstia uma mãe souber guardar, tanto mais assegurará ela os seus títulos à confiança e ao culto filial.
Estes transes se reproduzem, sob uma outra forma, mas com um caracter mais grave, quando se trata da vocação religiosa.
Em geral, uma vocação não poderia ser compreendida senão por aqueles que a tenham experimentado; é preciso ter sentido em si mesmo a força do chamamento de Deus, para se saber quanto esta força é atrativa e misteriosa.
Quando o Salvador se digna de escolher uma alma para colocá-la entre os seus discípulos preferidos e lhe conferir na Igreja a mais honrosa e a mais santa de todas as consagrações, essa escolha deveria encher de júbilo a piedade de uma mãe cristã; porquanto “a salvação entrou na sua casa” e ela possui diante do trono de Deus um anjo que protege a família. Mas ai de nós! O enfraquecimento da fé tem obscurecido, nos tempos que correm, uma tão consoladora verdade. Muitos se afligem em excesso com esta graça insigne; consideram quase como uma calamidade o que é o cúmulo das graças; e contrariamente à leviandade com a qual se precipitam os casamentos, retardam indefinidamente o dia em que se deverá consentir talvez em uma aliança com Deus. Quantas mães atestam com lágrimas que não poderiam viver sem suas filhas! Mas, quando um rico partido se apresenta, há toda a pressa em aceitá-lo, embora o jovem par tenha de ausentar-se logo, para ir habitar em país distante. Há nestas contradições um grave perigo para os filhos, uma grave ofensa a Deus e uma fonte oculta de remorsos para os pais.
Que terrível falta essa de rejeitar os obséquios de Deus, de estorvar as vias da Providência e de fechar a estrada por onde uma alma cristã se devia encaminhar para o auge da glória! Ó homens! – exclama a esse respeito um dos mais celebres doutores da Igreja, se temeis a condenação divina, não embaraceis as vocações. Todos os interpretes do Evangelho são unânimes em lembrar aos pais os deveres, os interesses sagrados e responsabilidade que eles esquecem em tais circunstâncias e insistem sobre o alto alcance desta palavra de Jesus Cristo: “Aquele que deixa tudo para me seguir, receberá o cêntuplo neste mundo e a vida eterna no outro”.
Há outras situações não menos aflitivas para o coração das mães; provêm das afinidades e das simpatias íntimas que as fazem participantes em todas os males dos filhos.
Na série de provações que compõem a vida terrestre não há nenhuma talvez mais pungente do que a dor de uma mãe que aperta contra o seio o ente querido a cujos sofrimentos não sabe dar alivio. Os sofrimentos daqueles a quem amamos nos doem muito mais do que os nossos próprios sofrimentos; por isso, nada poderia consolar a mãe que chora pelo filho. O Excesso, porém, que se deve evitar nestas cruéis angustias, é uma desolação sem medida e sem esperança. A alma deve dominar-se na resignação e desta virtude evangélica tirar graças proporcionais às suas mágoas. Deus nunca está longe dos corações aflitos, diz a Escritura.
Que as mães se voltem, pois, para o Senhor crucificado e lhe peçam essa submissão cristã que mitiga e santifica a dor. É certo que uma disposição calma teria sobre elas e sobre seus filhos uma influência salutar; e os seus olhares, gestos e palavras produziriam à cabeceira do enfermo uma ação mais curativa do que quaisquer outros remédios.
É aqui a ocasião de lembrar o medicamento evangélico que tão poucos observam e que muitos temem sem razão experimentar. Jesus Cristo proporcionou as nossas almas inúmeras graças para restaurá-las, fortificar e curar, mas não deixou de ocupar-se também das enfermidades do corpo e instituiu na Igreja um sacramento especial para aliviá-las.
“Se alguém dentre vós está doente – diz o apóstolo São Tiago – que se chamem os padres da Igreja e que estes rezem por ele, juntando as suas preces unções de óleo em nome do Senhor; e a prece da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e se ele cometeu pecados, estes lhe serão perdoados”.
Estas palavras estão cheias de consolação; mas, por um deplorável equívoco, provocam sustos e terrores nos espíritos pusilânimes.
Sem dúvida que o divino bálsamo do sacramento nos confere a mais desejável de todas as graças, a graça de uma boa morte, se a nossa última hora chegar, mas segundo a doutrina da Igreja, as santas unções possuem também a virtude de reanimar a vida corporal e de restabelecer a saúde. A experiência de todos os dias serve de apoio a esta verdade, atestando que em muitas circunstâncias em que a arte médica se mostra impotente, o sacramento triunfa e opera prodígios.
Não receeis, pois, fazer nenhum mal aos doentes, proporcionando-lhes esta graça que, pelo menos, purifica sempre a alma, dispõe o enfermo para a resignação e lhe verte no seio uma onda de paz celeste.
Que as vistas providenciais, nesses momentos decisivos, prevaleçam sobre as opiniões desarrazoadas. Bem haja a mãe verdadeiramente cristã que, depois de ter dado a seu filho a vida deste mundo, lhe proporciona ainda o bem mais precioso da vida no céu.
Se, todavia, a morte rouba o filho da sua mãe, quem poderá crer que ela rompa o laço das afeições? O amor filial não se extinguirá jamais com a morte: a memória do coração não se ofusca na luz de Deus, onde, ao contrário, as lembranças se iluminam e se eternizam. Essas queridas almas nos guardam lá todos os seus sentimentos e simpatias; são os nossos interpretes junto de Deus, que por Seu turno as expede a nós como invisíveis mensageiras.
Elas levaram consigo, ao saírem do mundo, uma grande porção de nós mesmos; e pelos vínculos indissolúveis de um íntimo e terno afeto, continuam ligadas a nós e vivendo conosco misteriosamente.
Não choreis os mortos como fazem aqueles que não têm fé! O Senhor vos levou o filho para subtraí-lo à corrupção do século e salvar a sua alma. Dizei antes com Jó: “Deus me havia dado; Deus me tirou; que o Seu santo nome seja louvado!”
Dizei aos mortos como a mãe dos Macabeus: “O Criador do mundo, que formou o homem e deu origem a todas as coisas, vos dará por sua misericórdia o espírito e a vida” II Mac. VI.
É assim que a mãe cristã, nas suas dolorosas provações, adora os desígnios de Deus.
A humilde aceitação das penas muda em doces alegrias as mais amargas tristezas; e em seguida as adversidades que fortalecem a virtude, a alma consolada admira as vias da divina Providência e exclama com Davi: “As vossas consolações, ó meu Deus, excederam o grande número das minhas tribulações e dos meus sofrimentos!".
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