Este blog é composto de textos extraídos do belíssimo e raro livro de 1938 chamado "Novo Manual das Mães Cristãs" do Reverendíssimo Padre Theodoro Ratisbona da Editora Vozes.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O papel da mulher na sociedade cristã

A Rainha do Universo, na invocação de Mater Admirabilis,
 é representada como uma humilde fiadeira
Proclamada a República no Brasil, muitos esperavam novos hábitos, novos costumes, novos procedimentos; enfim, nova mentalidade. Em certo sentido foi o que aconteceu; mas em outro sentido, não. A chamada República velha manteve na sociedade brasileira, de algum modo até acrescido, um ambiente aristocrático e nobre, muito influenciado pela cultura francesa.

Na vida de família, apesar de defeitos notórios, prezava-se uma formação moral autêntica, influenciada por uma elite católica de escol. Em especial, tinha-se cuidado com a formação e preservação das filhas, adorno indispensável das famílias dignas deste nome.

Como tratamos em artigo anterior, esta elite vinha sendo impulsionada por pessoas do porte de um D. Antonio Joaquim de Melo, fiel seguidor das orientações do Papa Pio IX; de um D. Vital, bispo de Olinda; ou de uma Madre Teodora de Voiron, semeadora de grande obra apostólica. Muitas outras figuras de destaque faziam parte desse rol admirável de católicos autênticos e zelosos.



“A mulher forte, viril, isenta do feminismo moderno”


O dia 13 de dezembro de 1916 foi especialmente festivo. Era a data da formatura de uma turma de moças do Colégio Nossa Senhora do Patrocínio em Itu, cidade do interior paulista. Comoveu o público presente o discurso de uma das privilegiadas formandas, que depois dos habituais cumprimentos às autoridades, aos pais e ao público em geral, narrou um episódio da Roma antiga, do qual tirou uma nobre lição. Transcrevemos alguns trechos desse discurso:


“Ao redor de Roma, um sábio arqueólogo ouve ansioso os golpes da picareta. De súbito, no meio da terra úmida encontra uma pedra tumular. O túmulo é de uma senhora. De quem seria? De Clélia, Túlia, Vetúria, Cornélia, célebres mulheres da Roma antiga, cada uma tendo se destacando por uma atitude que deixou marcas na História?


O sábio procura, procura sempre alguma inscrição. A noite já se projetava em largas sombras, quando consegue decifrar este epitáfio: ‘Ela fiou a lã e velou sobre a casa’.


Resumo de uma vida toda. Que geração de heróis saiu, talvez, dessa obscura matrona, cujo nome a posteridade devia ignorar? Ó mulher, dize-nos o segredo de tua existência! Ensina-nos onde se acha a sabedoria: a quem devemos dar razão? À antiga matrona fiando em sua casa, ou à Eva moderna, ávida de ostentação, de glória, de emancipação, de direitos iguais aos do homem?
A primeira impressão foi de um sentimento de revolta contra a obscuridade a que fora condenada aquela existência. Fiou a lã e velou sobre a casa. Aparenta-se não haver nisto nem muito mérito, nem muita virtude.

Reflexões mais profundas revelam coisa diversa. Esta mulher cumpriu verdadeiramente o seu destino, legando à posteridade o exemplo da mais alta sabedoria. O lar é o lugar que mais convém à mulher. Não é ela a alma da família, o centro ao redor do qual gravitam todas as afeições? Esposo e filhos querem vê-la ali no meio deles, a toda hora, como um farol luminoso, com uma misericordiosa providência, para indicar-lhes o dever, ensinar-lhes a virtude, consolá-los nas tristezas, compartilhar as alegrias. Sim, mais que da matrona pagã, o lar é o lugar da cristã. Este foi o lugar de Maria. E Maria, Mãe de Deus, não é a mais augusta, a mais gloriosa, a mais santa de todas as mulheres?


Pais, vossas filhas serão no porvir a vossa glória, o vosso conforto, compendiando em toda a sua vida as imortais palavras descobertas pelo arqueólogo, resumindo essas virtudes que farão a mulher forte, viril, isenta do feminismo moderno, fiel, dedicada até o heroísmo no cumprimento do dever. Nossas educadoras nos fazem cotidianamente haurir, na fonte da ciência literário-artística, a verdadeira e sólida educação cristã. Ufano-me em dizê-lo, é um laboratório aquecido ao lume da fé robusta, onde se formaram nossas diletas mães e essas legiões de senhoras que na família, na sociedade cristã, brilham quais jóias preciosas, preparadas com o mesmo carinho e esmero com que nos preparam hoje para tesouro do futuro”.*


Feminismo: o que demônio promete mas não dá



O lar é o lugar que mais convém à mulher.
Não é ela a alma da família, o centro ao redor
do qual gravitam todas as afeições?


 Outros tempos, outros costumes, outra vida. A doutrina católica tradicional estava na dianteira da formação dessa mentalidade. Nenhuma instituição dignificou mais a mulher do que a Igreja. A situação do sexo feminino no mundo antigo era inteiramente diversa da atitude que se passou a tomar em relação à mulher na civilização cristã: No paganismo, ela era quase uma escrava; a santa Igreja esculpiu na prática o que Deus Nosso Senhor traçou como modelo da mulher ideal.

Inúmeras são as mulheres que a Igreja apresenta como exemplos ao longo da História, formadas segundo seus veneráveis princípios:
- Santa Helena,
- Santa Clotilde,
- Santa Isabel da Hungria,
- Isabel a Católica,
- Branca de Castela,
- Santa Teresa de Ávila,
- mais recentemente Santa Teresinha, e quantas outras.


Que reações provocará este artigo em mentalidades imbuídas do ambiente mundano, tão condenado pelo Apóstolo das Gentes? Fúrias, indignações, ironias? Cansamo-nos de ouvir expressões como estas: “Isto é machismo”; “a mulher tem que desfrutar sua independência”; “não sirvo para ser doméstica”, e quantas coisas mais...


Como se costuma dizer, o demônio não dá o que promete. Quantas lamentações ouvem-se hoje em dia de mães que, além de cumprir todas as tarefas do lar, têm que executar algum trabalho profissional que decidiram assumir, ou a isso viram-se obrigadas! Quantos lares desfeitos! Como diz um provérbio: “Expulsai o que é natural, e ele voltará a galope”.


Se é certo, como dizem numerosas profecias particulares, que este mundo não se libertará de sua situação anticristã e neopagã, a não ser por meio de uma intervenção especial da Providência Divina, peçamos essa pronta interferência para que seja restaurado o papel fundamental, e quão grandioso, da mulher na sociedade, a exemplo da Santíssima Virgem, Mãe de todas as mães.



Sergio Bértoli



Nota:
* - Ivan A . Manoel, A Igreja e a educação feminina (1859-1919), Editora da Universidade Estadual Paulista (UNESP), São Paulo, 1996, pp. 13 e 14
 

Um comentário:

Viviany Maria disse...

Como os valores estão distorcidos! As mulheres estão trabalhando fora e a mais importante tarefa que existe, que é cuidar da família e formar os filhos, fica nas mãos de outros. E o pior é quando as mulheres são obrigadas a isso para conseguir o sustento de suas famílias.