A
mãe do grande Santo Agostinho oferece exemplo de perfeição às esposas, às
viúvas e às mães cristãs. Seu próprio filho é quem nos ensina a conhecê-la e a
apreciá-la.
Santa
Mônica era de tal modo cheia do seu Deus que ninguém se podia aproximar dela
sem se possuir do desejo de ser bom, pois nela brilhavam reunidas todas as
qualidades da mulher forte da Escritura. Não soube jamais retribuir o mal nem
ter nos lábios uma expressão áspera, senão doces e benévolas palavras que lhe
vinham diretamente do coração, tesouro inesgotável de bondade e doçura.
Oh!
Como é amável a mulher evangélica, quando a estrela da piedade lhe ilumina o
semblante!
É
uma providência para milhares de aflitos e o seu simples aspecto infunde veneração
e a santa suavidade que lhe banha o rosto cerca-se de uma estranha auréola de
graça e de simpatia. As intrigas e as conversações fúteis do mundo não
despertam a sua curiosidade nem excitam as suas atenções e as vãs homenagens
não a ostentam, nem as injustiças dos outros lhe arrancam murmúrios e queixas,
porque ela é sempre igual a si mesma e pelo seu silêncio como pela sua voz, por
todos os seus atos e pelos sacrifícios de cada dia e de cada instante, honra a
religião, edifica a sociedade e brilha diante dos homens com uma luz serena,
pura e ideal, que parece um lampejo de Deus.
Mônica
não é propriamente uma dessas almas excepcionais, cuja perfeição espanta a
fraqueza humana e que por suas obras heroicas escapam à nossa imitação. Não nos
aparece sob as formas de uma severa austeridade, nem a sua vida se assinala por
milagres.
A
sua santidade se manifestou, porém, no circulo dos deveres de uma situação
comum: Mônica aperfeiçoou sua alma no meio dessas dificuldades ordinárias em
que se encontram a maior parte das mulheres cristãs.
Como
esposa, qual foi a sua vida? O seu biógrafo confessa que ela tinha um marido
insuportável. Digamos tudo: este marido era pagão. Ai de nós! Que o paganismo
ainda existe nos tempos modernos, pois não poucos cristãos se tornam estranhos
a Jesus Cristo, adoram a fortuna e incensam ídolos, reduzindo a essa miséria
toda a sua religião!
Quantos
homens, aliás, honrados e instruídos, não conhecem mais o cristianismo e andam
arredios deste! Eles tinham aprendido, talvez, nos seus primeiros anos, os
rudimentos da religião, mas depois fecharam para sempre o catecismo, imaginando
já saberem tudo. Pronunciaram-se então sobre esta vasta doutrina de que nada
sabem, considerando-a indigna dos espíritos sérios, muito abaixo dos progressos
da ciência e em desacordo com as luzes do século. Que estranha apreciação! É
como se quisesse julgar das proporções de um homem pelas dimensões de um berço.
Disto resulta que, inteiramente absorvidos pelos negócios e coisas da terra,
que lhes fazem esquecer tudo que respeita à eternidade, eles repelem a religião
como inútil ou embaraçosa para si, tolerando-a apenas para as mulheres e as
crianças. Não se lembram de que a doutrina católica cativou os mais eminentes
gênios que tenham honrado o mundo, quer pelas suas investigações e descobertas
no domínio da ciência, quer pelos seus feitos grandiosos, e consideram talvez
como espíritos fracos os Agostinhos, os Jerônimos, os Crisóstomos, os Bernardos
e Tomás de Aquino e Inácio de Loyola e Vicente de Paulo e Fénelon e tantos
outros luzeiros da ciência divina. E ainda bem, quando esses a que nos
referimos não são mais do que simples indiferentes e não se lançam a perseguir
com a sua hostilidade ou as suas zombarias as práticas da piedade cristã.
Muitas esposas se encontram atualmente
nas mesmas condições em que vivia Santa Mônica. Qual deve ser, porém, a regra
do proceder delas em tão difíceis circunstâncias?
Seja
a mãe cristã, para seu esposo, um catecismo vivo e um compêndio de teologia!
Seja, para ele, a exemplo de Santa Mônica, um anjo de edificação e de salvação!
Sem
dúvida que lhe não compete pregar ou doutrinar, porquanto a sua graça é, ao
contrário, a do silêncio; mas este silêncio , só por si, vale uma boa pregação,
quando é manso, afável e simpático. Não há eloquência nem lição tão capaz de
revelar sob formas atraentes as belezas do cristianismo como a piedade serena e
afável da mãe cristã, pois assim a sua vida inteira, opulenta em virtudes, se
torna uma pura manifestação do Evangelho.
Vós
chamareis a vós os homens de bem e os salvareis, não por solicitações
reiteradas e inoportunas, mas por atos de generosa abnegação, pelas vossas
secretas e perseverantes orações, pela vossa dedicação e, sobretudo por um
espírito cheio de mansidão evangélica!
Ela
opera maravilhas que a mais assombrosa magia do mundo não saberia imitar
jamais. É um singular talismã que assegura à esposa infalíveis triunfos.
“Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra”.
Foi
assim que obteve Mônica o seu primeiro triunfo: ela salvou a alma do esposo
pela distinção do seu espírito, pela mansidão e brandura da sua piedade. Mas
Sto. Agostinho, o santo bispo de Hippona, continuando a referir-nos as
qualidade eminentes de sua mãe, não quis que ficássemos ignorando o modelo de
vida que ela abraçou depois da morte do marido.
Entregando-se
toda a Deus, Mônica fechou o coração às seduções de terra, para o não abrir
nunca mais senão às inspirações do céu.
Segundo
os livros sagrados é este, com efeito, o compromisso que a viúva cristã deve
firmar. A mulher que passa a sua viuvez em festas e prazeres, diz o grande
Apóstolo, parece estar viva, mas de fato está morta; está morta diante de Deus.
A
verdadeira viúva, segundo a significação da palavra, é a que se sente vazia,
vidua; vazia de toda a paixão, vazia de toda a afeição desordenada, vazia de
todas as recordações importunas e de todos os apegos mundanos, para só se encher,
como um vaso de honra, vas honorabile,
do balsamo do amor divino. Ela só pode aspirar às consolações imortais e, por
isso, é unicamente para o céu que o seu coração e as suas esperanças se devem
voltar. Speret in Domino!
Que
a viúva se abstenha, continua São Paulo, de usar mal da sua liberdade,
consumindo o seu tempo em ir de casa em casa, a ostentar a sua ociosidade em
visitas inúteis e a sacrificar ao luxo as oferendas a que tem direito a
caridade. Não tem justificação perante Deus a que perde assim o seu tempo e o
faz perder aos outros. É preferível tornar a casar-se a arriscar a alma; mas,
casando-se de novo, acrescenta o Apóstolo, ela sofrerá aflições que eu
desejaria evitar-lhe.
A
vida é uma prova rápida e grave em que se prepara o futuro destino. Que loucura
é prender-se às ilusões do mundo, em vez de procurar as realidades do supremo e
eterno júbilo! A viúva desligada dos laços do mundo está bastante livre e
desembaraçada para se consagrar, como as virgens, ao serviço do Senhor, e,
quando ela é fiel e zelosa, torna-se digna de uma glória imperecível perante
Deus e perante os homens.
Santa
Mônica compreendeu as recomendações evangélicas e as executou no meio das
circunstâncias difíceis da sua viuvez. Ela tinha um filho de vinte anos; e
quando a mãe carrega sozinha com o peso de uma responsabilidade tão grave,
precisa possuir mais do que uma virtude ordinária: precisa se mãe e pai ao
mesmo tempo, isto é, juntar uma prudente sagacidade à sua natural ternura e uma
firmeza masculina a uma delicada indulgência.
O
filho de Mônica, bem que muito jovem ainda, gozava já de grande retórica
nomeada pela sua eloquência, arte esta que ele professava com brilho nas mais
célebres academias do tempo, aonde o povo afluía de todas as partes, só para o
ouvir falar. Tanta glória seria mais que suficiente para fascinar a vaidade do
jovem Agostinho e de qualquer mãe menos cristã do que Santa Mônica. Esta,
porém, inteiramente desprendida das vãs satisfações do amor próprio e colocada
muito acima das ambições vulgares, não somente se mantém inacessível aos
ataques da vanglória humana, como também de algum modo serviu sempre de
contrapeso às exaltações juvenis de seu filho, sobre cuja soberba e vigorosa
inteligência não deixou nunca de conservar um verdadeiro ascendente. Se a não
desvaneciam os louros triunfantes do filho, também os desvios deste não
conseguiam desanimá-la. As suas constantes preces, as suas piedosas lágrimas e
a virtude das suas dores e da sua paciência fizeram surgir na Igreja o grande
Santo Agostinho.
Feliz
a mãe que, ao sair deste mundo, recebe as últimas consolações da boca de um
filho consagrado ao Senhor! Ela abençoou seu filho e o filho abençoou sua mãe!
Seus nomes se entrelaçaram no santo altar, inscrevendo-se ambos no livro da
vida. As glórias que os homens reciprocamente se conferem, depressa passam e se
esvaem; e a mãe que, para seus filhos, tão frágeis e fugitivas glórias
ambiciona, nenhuma vantagem colherá perante Deus. Mas vós, ó mães cristãs, que
introduzis vossos filhos na senda real da salvação, onde os haveis precedido;
vós sim é que os sabeis amar verdadeiramente, pois granjeais para eles uma
incorruptível e imarcescível coroa de honra. Desde então recebeis, em paga do vosso
amor, o mais profundo, o mais delicioso de todos os sentimentos, o amor filial
que não se altera jamais e que jamais se esgota e que não cessará de celebrar,
tanto no céu como na terra, a vossa dedicação, os vossos sacrifícios e os
vossos piedosos desvelos.
Se
Mônica não tivesse ambicionado para Agostinho senão fúteis glórias humanas, nem
ela seria Santa Mônica nem seu filho viria a ser o santo que é, o grande Santo
Agostinho. Ela preferiu, seguido os conselhos da alta sapiência, os bens
imortais do céu a todas as fortunas da terra; e é por isso que a sua memória,
juntamente com a de seu filho, será eternamente abençoada.
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