Este blog é composto de textos extraídos do belíssimo e raro livro de 1938 chamado "Novo Manual das Mães Cristãs" do Reverendíssimo Padre Theodoro Ratisbona da Editora Vozes.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

VIII. A boa vontade

Nossa vida presente e por vir depende da direção da nossa vontade: será boa ou má, segundo o móvel que a leva e o fim que se propõe...
É pela vontade que o homem é o que é: ela dá a todos os atos da vida o seu valor e o seu caráter. Onde não há vontade, não há vícios, nem virtudes, nem pecados, nem méritos. Aos homens de boa vontade o Evangelho oferece a paz; mas de modo nenhum há paz para a vontade pervertida.

Não confundamos contudo a boa vontade com as frivolidades. Poucas almas há, felizmente, que queiram o mal pelo mal; mas há muitas que, sem quererem o mal, deixam de querer o bem. A vontade destas é cega ou impotente: quereriam talvez o bem, mas não sabem querer. Quantos homens há que não sabem o que querem; ou que não querem o que sabem! São vontades efêmeras, sem raízes e sem frutos, semelhantes a flores que germinam em um copo d’água.

A boa vontade não é verdadeiramente boa, senão quando se liga por uma adesão enérgica à vontade de Deus, que é a Bondade soberana. Só assim é que ela visa o bem e se desenvolve em harmonia com tudo o que é bom, com tudo o que é verdadeiro, justo e belo.

Este acordo fundamental com a Vontade divina é um alto testemunho do amor, pois que Jesus Cristo disse: “Aquele que me ama guarda a minha palavra”. Sem esta concordância, falta à piedade uma base e o amor é ilusório. “Não são os que dizem: Senhor! Senhor! Que hão de entrar no reino dos céus, mas os que fazem a vontade do Pai celeste”.

De todas as práticas da religião, a mais doce e a mais sólida é a que une a vontade do homem à vontade de Deus. O que poderíamos desejar mais?

No coração de Deus se acham, em sumo grau, todas as solicitudes de um pai e toda a ternura de uma mãe.

A sua vontade não é mais do que a expressão do seu imenso amor. Ele não poderia querer senão a nossa salvação e a nossa felicidade. Quando nos experimenta, é para nos santificar; quando nos castiga, é para nos curar; quando nos fere, é para nos salvar.

Oh! Como seriamos mais sábios, mais tranqüilos e mais felizes, se estivéssemos mais compenetrados desta verdade consoladora! Mas, é preciso confessar, nós não procuramos sempre esta harmonia; duvidamos da bondade de Deus, desconhecemos seus pensamentos de misericórdia, resistimos em muitas circunstâncias aos seus desígnios sobre nós, cerramos os olhos para não ver e os ouvidos para não ouvir! Consideramos por vezes a divina Vontade como uma carga insuportável e não nos conformamos a ela senão quando não temos opção de escapar de suas consequências.

Há cristãos que fazem longas orações e praticam muitas boas obras, mas que, no meio das suas preocupações, não se dão ao trabalho de averiguar se andam realmente no caminho de Deus. Outros há que fazem igualmente profissão de piedade e que julgam e condenam, no ponto de vista da sua estreita razão, os acontecimentos providenciais. Como, dizem eles, Deus, que é justo, pode querer tão estranhas desordens? Como pode permitir tão tristes surpresas? E com isso parecem concluir que Deus nem sempre faz bem tudo o que faz e que eles, no lugar de Deus, fariam melhor. Outros, enfim, se declaram dispostos a seguir a vontade de Deus, mas pretendem que a não conhecem. Esta objeção desaparece em façe dos testemunhos da Escrituras e da experiência; porquanto, além da lei positiva que esclarece e dirige os homens de boa vontade, há para cada alma em particular inspirações, circunstancia, graças do momento que manifesta com evidencia os desígnios do Altíssimo. Deus não deixa em perplexidade um coração reto, nem tão pouco deixa sem força uma vontade sincera.


Se estais generosamente determinados a realizar o que Deus vos propõe, encontrareis sobre o vosso caminho o facho, o farol, o guia, o Ananias, que vos esclarecerá a consciência e vos dirá o que deveis fazer. Se, ao contrario, não encontrais, nem em vós mesmo, nem nos vossos guias espirituais, a direção que vos falta, é porque a vossa vontade é vacilante, e não procurais a vontade de Deus, senão quando ela concorda com a vossa, com os vossos pensamentos, projetos e interesses. Estais assim bem dispostos a fazer tudo o que Deus vos disser, contanto que Ele vos diga tudo o que quereis e que aprove tudo o que desejardes. Eis ai, segundo Fenelon, a razão por que poucas almas encontram diretores. Não os encontram porque não usam, ou melhor, porque abusam deles. Correm de diretor em diretor, sob o pretexto de procurarem um dentre mil; mas no fundo, o que elas receiam é a verdade, assim como os olhos doentes receiam a luz.

Estas considerações se aplicam mais do que se pensa às solicitudes das mães cristãs, quando se trata, com relação a seus filhos, da escolha de um estado, de uma profissão, de uma vocação superior.

Oh! Se, nestas graves conjunturas, a vontade fosse verdadeiramente boa e se existisse sincera disposição de conhecer a vontade de Deus para a cumprir, como o futuro do filhos se desenharia com mais nitidez! Como o destino deles se desenvolveria com mais benção e graça! A harmonia da vontade humana com a vontade de Deus é a condição fundamental da piedade. Esta harmonia mantém o equilíbrio dos sentimentos cristãos e produz a paz, a perfeição e a felicidade.

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